Apagão de profissionais digitais: é urgente reverter esse cenário

Confira o artigo da Fundadora do BrazilLAB publicado em sua coluna mensal no Canaltech
Letícia Piccolotto Em 26 de August de 2021

 

A Fundadora e Presidente do Conselho do BrazilLAB, Letícia Piccolotto, publicou em sua coluna no Canaltech um artigo abordando a complexidade de suprir o déficit de profissionais digitais e a falta de profissionais qualificados para as áreas de tecnologia. Em seu artigo, Letícia destaca que são dois os grandes desafios que precisam ser superados quando falamos da formação de profissionais digitais. Primeiro, garantir escala. É preciso ampliar muito e rápido o número de pessoas capacitadas a trabalhar com tecnologias. Segundo, a qualidade. Precisamos de especialistas que possam se tornar verdadeiras lideranças em projetos de transformação digital, seja no setor privado ou no público. Confria abaixo o artigo na íntegra.

 

Apagão de profissionais digitais: é urgente reverter esse cenário

O mercado digital já vivia um período de constante expansão e de transformações exponenciais, com novas tecnologias chegando a todo momento. Com a crise trazida pela pandemia, esse movimento ganhou um novo status: pesquisas indicam que em alguns meses do ano 2020, avançamos o equivalente a 7 anos de desenvolvimento tecnológico.

Mas um fator determinante pode representar uma ameaça à transformação tecnológica que desejamos alcançar: pessoas. Se nada for feito, muito em breve enfrentaremos um profundo déficit de talentos digitais para exercer diversas funções relacionadas à produção de tecnologias, como engenharia de software, programação, designer, entre outras.

Se de um lado faltam profissionais qualificados para as áreas de tecnologia, do outro, 20 milhões de brasileiros não têm emprego. Destes, 14,1 milhões estão em busca de um trabalho, enquanto os outros 5,9 milhões já desistiram de procurar, de acordo com o IBGE.  Essa situação é absolutamente paradoxal, demonstrando o quanto falhamos em alinhar políticas de formação profissional, emprego e renda.

Diversos cargos na área de tecnologia estão vazios por falta de mão de obra qualificada. Mais de um terço das vagas em tecnologia fica aberta por mais de dois meses, de acordo com estudo da Indeed. Engenheiro de Software, Desenvolvedor Java e Desenvolvedor Android são alguns dos cargos mais difíceis de preencher, cada um com mais de 38% das vagas abertas há mais de 60 dias.

Segundo pesquisa realizada pelo BrazilLAB e pela Fundação Brava, em parceria com o Center for Public Impact (CPI), caso nenhuma medida seja tomada, o déficit de profissionais digitais pode atingir o alarmante número de mais de 300 mil pessoas até o ano de 2024.  De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), hoje, o Brasil forma 46 mil profissionais com perfil tecnológico por ano.

Dois desafios principais precisam ser superados quando falamos da formação de profissionais digitais. Primeiro, garantir escala. É preciso ampliar muito e rápido o número de pessoas capacitadas a trabalhar com tecnologias. Segundo, a qualidade. Precisamos de especialistas que possam se tornar verdadeiras lideranças em projetos de transformação digital, seja no setor privado ou no público.

Temos visto com mais frequência entidades e empresas que estão se dedicando a formar novos profissionais. A Alpha Edtech é um desses exemplos. Lançada em 2020, a Alpha é uma escola de programação no modelo bootcamp. Os alunos selecionados recebem uma bolsa de estudos no valor de R$ 1 mil por mês, patrocinada por empresas do setor, para viabilizar a dedicação exclusiva ao programa de formação e, ao final, são contratados para que possam trabalhar como programadores.

A primeira turma selecionou 31 candidatos de todas as regiões do Brasil e todos já foram alocados em empresas parceiras da iniciativa. A preocupação com a diversidade é uma constante: 39% da turma é formada por mulheres, número muito superior ao observado no mercado de trabalho de tecnologia, no qual o público feminino representa somente 20% do total de profissionais. 

A iniciativa também está alinhada aos desafios do contexto brasileiro, ao mesmo tempo em que prioriza a qualidade da formação: os alunos passam por cursos de nivelamento para reforçar os conhecimentos de pensamento matemático e inglês, além de terem acesso a conteúdos de soft skills, desenvolvendo as habilidades tão necessárias para a inovação, como resiliência, adaptabilidade e paixão por aprender.

 

Há muitas oportunidades pela frente

Não faltam oportunidades nessa área, mas precisamos de talentos que possam ocupar esses cargos. Por isso, programas de incentivo são tão importantes e devem ser uma prioridade estratégica caso o Brasil deseje se tornar uma referência e aproveitar as oportunidades trazidas pela revolução digital. 

Precisamos garantir a diversidade e inclusão do maior número de pessoas na economia digital, com profissionais preparados para ocupar posições de trabalho que tenham alto valor agregado e de retorno econômico. Vale destacar que ainda o segmento de tecnologia é mais masculino e branco do que a média do mercado de trabalho. Só 37% dos profissionais são mulheres e apenas 30% se declaram pretos ou pardos, de acordo com a Brasscom. 

Ainda dá tempo de reverter esse cenário e trazer mais pessoas para esse lado da força. O desenvolvimento de tecnologias pode ser também um instrumento de inclusão social e espaço para a construção de emprego e renda dignos para as pessoas. As oportunidades já estão todas na mesa. Precisamos estar atentas e atentos para sermos protagonistas e não meros espectadores dessa transformação.

Confira o artigo na coluna de Letícia Piccolotto no Canaltech.

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