Nos últimos anos, a formação de talentos digitais tem sido um dos principais temas em que tenho atuado. E não é por menos, fomentar mais talentos em tecnologia é chave para incluir o Brasil no mapa da inovação e ampliar o nosso potencial de desenvolvimento. Contudo, o cenário atual ainda está bem distante do ideal. A busca por talentos, especialmente na área de tecnologia, tem sido um dos principais gargalos para o desenvolvimento econômico. Não temos pessoas em número e com a formação adequada para produzir soluções digitais demandadas pela Revolução 4.0. Segundo pesquisa da Brasscom (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação), estima-se que 530 mil vagas de tecnologia no Brasil não serão preenchidas até 2025.
A falta de profissionais com a formação necessária e em número suficiente para atender o mercado, a crescente concorrência e demandas de grandes startups e instituições financeiras por profissionais, além do dinamismo das tecnologias, são alguns dos fatores que contribuem para este desafio. E esse não é um movimento exclusivo do nosso país. Aproximadamente 97 milhões de empregos serão gerados no mundo até 2025 com o surgimento de novas tecnologias. Simultaneamente, 85 milhões de empregos deverão ser deslocados por causa dessas mesmas transformações. Desta forma, países do mundo inteiro estão correndo contra o tempo para formar profissionais com as competências e habilidades necessárias.
O "apagão" de talentos tech se torna um problema ainda mais grave ao reconhecermos que, se por um lado estão sobrando vagas e há uma procura crescente por profissionais tech, do outro estamos passando por uma grave crise social. Inflação elevada, juros altos, aumento da fome e do desemprego são as marcas de um crítico cenário socioeconômico brasileiro. Um dos públicos mais vulneráveis e afetados por esta crise tem sido a juventude brasileira. O desemprego entre os jovens de 18 a 24 anos é da ordem de 22,8%, sendo o dobro da média de toda a população, de 11,1%. Dentre os jovens dessa mesma faixa etária, cerca de 36% não estudam ou trabalham, sendo mais que o dobro do observado nos países da OCDE, com 14%.
A formação na área de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) oferece uma melhor aderência ao mercado e uma projeção salarial maior em comparação aos demais setores. Segundo o estudo "Formação Educacional e Empregabilidade em TIC", os salários em setores de tecnologia são 2,8 vezes superiores ao salário médio nacional. Assim, a formação profissional em tecnologia se mostra uma alavanca para inserção da população jovem adulta no mercado de trabalho, reduzindo desigualdades e promovendo desenvolvimento do país. Se não investirmos em capital humano qualificado para atender às novas transformações tecnológicas e econômicas, o país perderá em termos de inovação, competitividade e, consequentemente, crescimento. Desta forma, é crucial que tanto o poder público quanto as empresas e organizações sociais reconheçam a importância desta agenda de formação de talentos a partir da educação profissional em tecnologia.
Diversas organizações têm se mobilizado em função deste objetivo maior.
Entre elas, a Endeavor, que desenvolveu e reuniu em uma agenda —que você pode conferir aqui— os principais desafios do ecossistema de empreendedorismo, com o objetivo de destravar o desenvolvimento socioeconômico do Brasil e fomentar o empreendedorismo inovador e surgimento e crescimento de cada vez mais talentos digitais em todo o nosso território. A agenda destaca a urgência dos desafios da formação de talentos em tecnologia, e apresenta iniciativas para atacar este problema. Apoiada pela Fundação Brava, entre outras organizações brasileiras, o documento foi criado com o objetivo de subsidiar a tomada de decisão das próximas lideranças públicas eleitas em 2022. Ao todo, a agenda apresenta seis propostas para impulsionar a formação de talentos em tecnologia, dividindo o desafio em dois principais problemas: "a baixa quantidade de formandos" e "cursos desconectados do mercado de trabalho".
Dentre elas estão:
·A promoção de cursos profissionalizantes e conectados ao ensino médio nas redes públicas de ensino de todo o país;
·O estabelecimento de parcerias com organizações do setor público, privado e da sociedade civil;
·A garantia de programas de permanência e auxílio para estudantes;
·E a implantação de novas perspectivas de ensino e aprendizagem, conectadas ao mundo do trabalho e aos desafios reais enfrentados pelos estudantes.
·Apesar de um complexo desafio pela frente, cada vez mais iniciativas têm surgido de todos os setores da sociedade em busca de uma solução conjunta.
Mais do que nunca, o poder público, a sociedade civil e o ecossistema de empreendedorismo precisam trabalhar em conjunto. Com decisão política, evidências e boas referências para as políticas públicas poderemos implementar iniciativas para a formação de talentos para a transformação digital.