Artigo de Letícia Piccolotto no Estadão: à espera de um Brasil mais digital e menos burocrático

Com a transformação digital, finalmente, poderemos ter os governos que precisamos e merecemos; confira artigo da fundadora do BrazilLAB
Em 03 de September de 2020

No último sábado de agosto, a fundadora do BrazilLAB, Letícia Piccolotto, publicou um artigo na coluna do Fausto Macedo, no Estadão. Entitulado "Pós-pandemia: à espera de um Brasil mais digital e menos burocrático", o artigo faz um balanço sobre os impactos da pandemia no poder público. Foram muitas transformações e uma constatação que já sabíamos: um governo mais efetivo precisa ser mais digital. Nesse período de crise ficou claro que somente com a adoção de novas tecnologias, poderemos ofertar serviços públicos de qualidade e que atendam às demandas dos cidadãos. Com a transformação digital, finalmente, poderemos ter os governos que precisamos e merecemos.

Confira o artigo na íntegra:

Há anos esperamos um governo mais digital, mais prático e que atenda à população de maneira eficaz. Afinal, o Brasil é considerado um dos países mais burocráticos do mundo, ocupando a 124ª posição em levantamento realizado pelo Banco Mundial. Esse triste ranking só mostra que mesmo com o surgimento de novas tecnologias, temos um poder público que enfrenta desafios do século XVIII, mesmo podendo contar com recursos digitais do século XXI.

Mas posso afirmar que a pandemia do coronavírus tem deixado lições importantes para essa esfera. Por onde quer que olhamos, vemos um fenômeno global que transformou a dinâmica de praticamente todos os países. No setor público brasileiro, os aprendizados são ainda maiores, especialmente considerando que somos um dos países mais atingidos e possuímos uma desigualdade social gigantesca. A população brasileira tem sofrido com os diversos desafios trazidos pela pandemia, sejam eles econômicos, sociais ou políticos.

Para se ter uma ideia, a criação do auxílio emergencial para atender as pessoas mais vulneráveis economicamente, escancarou o quão burocrático é ter uma ajuda do governo em um momento de desafios sem precedentes. Observamos filas nas agências físicas e problemas para acessar o aplicativo no celular, expondo um grande desafio do nosso país: a identificação dos cidadãos, uma verdadeira dívida histórica que ainda temos com os brasileiros. A experiência mostrou que não há mais como adiar a necessidade de que todos sejam reconhecidos pelo Estado e, para isso, é preciso garantir-lhes uma identidade – de preferência, única e também digital.

Mas também tivemos exemplos positivos. O governo precisou se reinventar para enfrentar uma crise sem precedentes. Em questão de dias, tiramos anos emperrados e conseguimos que a transformação digital se tornasse não só uma utopia, mas uma realidade no poder público. A corrida não era apenas para frear o avanço do coronavírus, era também para atender as pessoas de onde elas estivessem. Temos visto diversas experiências bem-sucedidas, desde a digitalização do processo legislativo, que permitiu a continuidade de votações de matérias fundamentais pelo Congresso Nacional, assim como a incorporação de tecnologias que antes não passavam de um desejo improvável, como atendimento via telemedicina, por exemplo.

As startups GovTechs foram grandes aliadas para que essa onda de mudança se tornasse realidade. O esforço de empreendedores das GovTechs para oferecer tecnologias para governos e cidadãos já vem sendo notado há algum tempo. Não é de hoje que esse movimento acontece, mas tem se tornado uma tendência cada vez mais forte diante da pandemia e estará muito mais presente nos próximos anos. Elas adaptaram suas soluções em tempo recorde para atenderem as demandas do poder público, oferecendo inovações que hoje já fazem parte de nossa vida e, muito provavelmente, vieram para ficar: teletrabalho, educação à distância e a telemedicina.

Afinal, temos observado que a adoção de tecnologias pode se tornar uma estratégia fundamental para o governo, uma vez que as soluções tecnológicas trazem eficiência à aplicação de recursos públicos e também a garantia de direitos dos cidadãos. A Estratégia Brasileira para a Transformação Digital, publicada em 2018, aponta para a potencial economia de recursos: uma estimativa do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão aponta que o atendimento presencial tem um custo médio de R$ 43,68, enquanto o atendimento online pode chegar a R$ 1,20, ou seja, uma redução de mais de 97% em recursos públicos por transação.

Temos boas razões para acreditar que a transformação digital do governo poderá se intensificar nos próximos anos. A meta da Estratégia de Governo Digital, plano publicado pelo governo federal, (https://www.gov.br/governodigital/pt-br/EGD2020) é chegar ao final de 2022 com todos os serviços públicos digitalizados. A estimativa de economia é de R$ 38 bilhões em cinco anos, de 2020 a 2025.

Diante do novo cenário que vivemos, o poder público não poderia continuar trabalhando como antes. Estamos todos transformados e acompanhando as tendências desse “novo mundo”. A pandemia só mostrou uma coisa que já tínhamos certeza: um governo mais efetivo precisa ser mais digital. Somente com a adoção de novas tecnologias, poderemos ofertar serviços públicos de qualidade e que atendam às demandas dos cidadãos. Com a transformação digital, poderemos, finalmente, ter os governos que precisamos e merecemos.

Confira o artigo na íntegra na coluna do Fausto Macedo no Estadão.

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