O Brasil corre o risco de comprometer a transformação tecnológica em curso caso não invista na formação e qualificação de profissionais digitais. Este é um dos diagnósticos revelado no relatório "Como o Brasil pode ampliar o ecossistema de profissionais digitais?", lançado pelo BrazilLAB, em parceria com a Fundação BRAVA e o Centre for Pulblic Impact (CPI), durante o Webinar Profissionais Digitais: desafios e caminhos para a transformação tecnológica no Brasil, realizado no dia 06 de novembro.
O estudo teve como objetivo principal avaliar benchmarks internacionais de estratégias para ampliar o número de profissionais com formação específica em tecnologias digitais. A pesquisa também traz um panorama de desafios e oportunidades no Brasil para o fomento de um ecossistema de talentos digitais em grande escala.
“A formação de profissionais digitais é um desafio complexo e as experiências internacionais demonstram a necessidade de combinar diversas estratégias e incentivos que se iniciam na educação básica e seguem até as fases de especialização profissional. Um aprendizado muito relevante também é que as ações bem-sucedidas envolvem o esforço conjunto e colaborativo entre diversos atores. A responsabilidade por ampliar a capacitação de profissionais digitais e equilibrar sua oferta com a crescente demanda não é somente das instituições educacionais, mas também do setor público, da sociedade civil e também do setor privado. Todos eles podem contribuir muito com a formação prática e contínua”, comenta Bruna Mattos, Gerente de Projetos da Fundação Brava e responsável pelo estudo.
Segundo o levantamento, caso nada seja feito, o déficit de profissionais digitais - programadores, engenheiros de software, gerentes digitais e tantos outros que serão responsáveis por formular e implementar as soluções tecnológicas - pode chegar a mais de 300 mil pessoas até 2024.
Esse é um cenário que não é exclusividade do Brasil. Outros países sofrem com a escassez desses talentos e foi possível analisar como cada um deles soube traçar estratégias para lidar com esse problema.
O estudo mapeou 32 experiências internacionais, desenvolvidas por 14 países. As estratégias buscaram promover o aumento de profissionais digitais a partir de duas principais estratégias: desenvolver os talentos nacionalmente ou atrair os profissionais digitais do exterior.
O estudo mostra que em Cingapura, por exemplo, houve investimento em um programa de treinamento da força de trabalho – uma iniciativa construída em conjunto pelo governo, indústria e congresso da união nacional de comércio, e que buscava ofertar incentivo a treinamentos na área digital, incluindo ações como a oferta de bolsas, conteúdo sobre digital, serviço de carreira, entre outros. Na Holanda, o foco foi a educação básica, com o “Geef IT Door”, ou “Passe a TI adiante”. O programa tem como objetivo incentivar jovens a seguirem carreiras de tecnologia, a partir da conexão entre alunos do ensino médio e profissionais digitais, que despertam o interesse deles para estudarem e trabalharem nesse setor.
Na China, o programa de atração internacional de talentos promete aumentar a atratividade do país para profissionais de alto nível (estrangeiros ou não) que residiam no exterior e que tenham recebido alguma oferta para trabalhar no país. O Canadá, por sua vez, está focado em estratégias para aumentar a mobilidade internacional, facilitando a obtenção de vistos para profissionais digitais entrarem no país. Na França há uma estratégia para fomentar o ecossistema de startups, com a criação de pólos de excelência para acelerar o desenvolvimento destas empresas, além de vistos para estrangeiros empreenderem no país e fundos de investimento para financiar empreendimentos.
O Brasil também vem dando alguns passos para lidar com o gap no mercado, porém ainda bem tímidos. O relatório aponta que houve aumento de autodidatas incentivados pela alta demanda de profissionais e oferta de cursos e formação online em área de tecnologia, além dos inovadores bootcamps, cursos intensivos que priorizam habilidades mais desejadas pelo setor digital, com foco primordial na prática e que podem ser realizados com meses ou até horas de duração.
Além disso, as próprias organizações apostaram em algumas estratégias para suprir suas próprias demandas. Uma dessas iniciativas é a do Porto Digital de Recife, um dos mais relevantes parques tecnológicos do Brasil, com mais de 300 empresas e faturamento de quase R$ 2 bilhões anuais. Eles desenvolveram programas para tentar atender sua própria necessidade por profissionais digitais, como um programa de conversão para transformar profissionais da área de exatas desempregados em programadores, assim como uma parceria com universidades privadas para oferecer cursos de dois anos com grade específica para as demandas do parque tecnológico.
“O Brasil é um mercado com grande potencial para adoção de tecnologias digitais. Por isso, é importante que governo, sociedade civil e setor privado atuem de maneira colaborativa na construção de estratégias que ajudem a ampliar o número de profissionais digitais no país. Se isso não for feito, corremos o risco de não avançarmos no processo de transformação digital, que não se consolida sem as pessoas”, finaliza Letícia Piccolotto, Presidente Executiva da Fundação Brava, Fundadora e CEO do BrazilLAB.