BrazilLAB ganha destaque no Valor Especial Inovação: "melhor gestão reduz burocracia"

A publicação do Especial Inovação do Valor Econômico traz um balanço sobre a atuação do BrazilLAB e sobre o cenário GovTech no Brasil
Em 08 de December de 2020

O BrazilLAB ganhou destaque na última publicação do Especial Inovação do Valor Econômico. A matéria traz um balanço bem completo sobre a trajetória do BrazilLAB, o cenário do ecossistema GovTech em nosso país, destacando o potencial de crescimento deste mercado nos próximos anos, e os resultados do Relatório "As Startups GovTech e o Futuro do Governo no Brasil", lançado pelo BrazilLAB e o CAF - Banco de Desenvolvimento da América Latina. O artigo também traça o perfil de várias Startups que passaram pelas inciativas do BrazilLAB e hoje despontam como as principais empresas que já estão atuando junto aos governos e órgãos públicos. Confira abaixo a matéria na integra.

 

Melhor gestão reduz burocracia

* por Luiz Maciel

Um aplicativo encaminha sugestões e reclamações de moradores aos administradores de cada área da cidade, sem intermediários. Uma base de dados com milhares de preços de produtos para servir de referência a novas licitações públicas. Um programa que organiza as informações sobre a população mais carente dos municípios, auxiliando na elaboração das políticas sociais e evitando desvios na concessão de benefícios.

A rigor, todas estas ações, voltadas à melhoria do serviço prestado à população, poderiam ser adotadas diretamente pelos órgãos públicos – caso eles não enfrentassem os costumeiros entraves burocráticos, além da dificuldade de capacitar funcionários para novas tarefas. A boa novidade é que cada vez mais gestores públicos estão se valendo de ferramentas tecnológicas originais, desenvolvidas por startups, para desatas os nós administrativos.

Essas pequenas empresas dedicadas a facilitar a vida de administradores públicos são as govtechs – responsáveis, aliás, por muitas das realizações apregoadas por prefeitos em busca de um novo mandato nas recentes eleições. As primeiras govtechs surgiram no Brasil em 2013, ainda timidamente, inspiradas em experiências estrangerias de sucesso, sobretudo na Estônia, o país que inaugurou essa modalidade de serviço de 15 anos atrás. Hoje, elas já são cerca de 1,5 mil no país, de acordo com uma pesquisa da aceleradora BrazilLAB em parceria com o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), divulgada no fim de setembro.

Deste total, o estudo estima que 27% das govtechs estão em plena operação – com ritmo de crescimento anual de dois dígitos – e 32% delas em fase de consolidação, assinado os primeiros contratos com órgãos públicos, sobretudo prefeituras. “Essas startups levam um certo tempo para se firmarem no mercado, porque a grande maioria depende de recursos próprios dos fundadores no início. Das 135 govtechs que participaram do nosso levantamento, 38% começaram com capital pequeno, entre R$ 100 mil e R$ 200 mil”, explica Letícia Piccolotto, presidente do BrazilLAB.

Fundado em 2015 por Letícia e seu sócio Guilherme Dominguez, o BrazilLAB é um hub de inovação dedicado a conectar pequenos empreendedores com o poder público, financiado por dois bancos (Itaú e Bank of America) e várias fundações lideradas por empresários do porte de Jorge Paulo Lemann (Ambev) e David Feffer (Suzano). A trajetória do BrazilLAB ilustra bem a tendência de multiplicação das govtechs nos últimos anos: até 2018, havia ajudado 27 dessas startups a levantar voo; hoje o total de empresas aceleradas já é quatro vezes maior. “E há cerca de três mil inscritas para avaliação no nosso programa de mentoria”, acrescenta Letícia.

Uma das govtechs que decolaram é a Gesuas, que desenvolveu um software para organizar as informações sobre comunidades carentes que dependem assistência social. “Nosso sistema reúne um grande número de dados para dar um retrato detalhado dessas famílias. Onde moram, quantos trabalham ou não, se recebem cesta básica, se tiveram registros de trabalho infantil ou violência doméstica, etc. Com base nesse cadastro, os gestores ganham tempo, sabem quantas pessoas precisam atender e onde agir com prioridade”, afirma Igor Guadalupe, fundador da startup.

Com a situação de emergência social provocada pela pandemia de covid-19, o número de famílias que passaram a depender de benefícios oficiais aumentou, levando as prefeituras e outros órgãos a procurar a ajuda da Gesuas. “De janeiro para cá assinamos dez contratos novos”, informa Guadalupe. Fundada em 2013, a govtechs dele atendia 24 municípios em 2017, ano que faturo R$ 230 mil. Depois disso, passou a crescer exponencialmente, registrando receitas de R$ 600 mil em 2018, R$ 930 mil em 2019 – espera fechar este ano com R$ 1,6 milhão. Atende 101 municípios distribuídos por 14 Estados.

Entendi que esse era um mercado promissor e ainda inexplorado, onde valia a pena investir. E continua sendo assim, pois quase metade dos brasileiros sobrevive com menos de meio salário mínimo por mês”, observa o empreendedor, com base na Pesquisa Nacional de Análise de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2018.

O estudo sobre as govtechs, pelo BrazilLAB com o CAF, destaca justamente a falta de grandes investidores em um mercado com tanto potencial. “Somente o governo federal empenhou, ao longo de 2018, mais de R$ 4,4 bilhões em tecnologia da informação, incluindo equipamentos e serviços. Além disso, há estimativas de que o mercado de govtechs possa representar US$ 1 trilhão até 2023 no mundo todo”, escreveu o relatório do estudo Guilherme Dominguez, diretor do Programa de Aceleração do BrazilLAB.

As govtechs brasileiras atuam principalmente no aprimoramento da gestão (28%), da educação (17%) e da saúde (11%) – um resultado previsível, uma vez que cerca de 70% das escolas e 90% dos hospitais brasileiros são mantidos pelo poder público, que precisa ser bem gerido para dar conta das responsabilidades. As áreas de atuação mais exploradas a seguir são: segurança (8%), mobilidade (7%), meio ambiente (7%), habitação (4%) e saneamento (2%). A maior parte dessas startups (53%) está estruturada na venda de softwares como serviços (SaaS), enquanto 7% estão focadas em mercado, outras 7% no comércio eletrônico, 6% na venda de dados e as demais em outros modelos de negócio.

A Colab, outra das pioneiras, faz sucesso com um aplicativo que conecta os moradores diretamente com o prefeito ou a administração responsável por uma área da cidade para relatar um problema ou sugestão. A mensagem, que sempre deve ser enviada junto com a uma foto, agiliza as providências necessárias para tapar um buraco de rua, coibir o corte de uma árvore ou remover o lixo acumulado em uma praça – caso contrário, a omissão do responsável ficará aos olhos de todos. Com essa proposta, o Colab ganhou da Organização das Nações Unidas (ONU) o reconhecimento de ter desenvolvido um dos melhores aplicativos urbanos do mundo, o que chamou a atenção da aceleradora Comunitas (apoiada por empresas como Gerdau, Santander, BRF e Vivo), que a fez deslanchar.

Há exemplos de toda ordem entre as govtechs. A Eu Ensino é voltada à capacitação de professores e coordenadores pedagógicos, por meio de vídeos, artigos e outras atividades on-line. A Fletter App se propõe a racionalizar o uso de frotas públicas, com um sistema digital de acompanhamento das demandas e disponibilidades de transporte, economizando tempo, combustível e até veículos. A NTU oferece um laboratório virtual de robótica para estudantes. A Up Saúde desenvolveu uma plataforma de telemedicina para médicos e psicólogos, com marcação de consultas e gestão integrada ao Sistema Único de Saúde (SUS). A SmartSíndico oferece um sistema de gestão para condomínios de baixa renda, com foco na conservação das moradias, no combate ao desperdício e na prevenção da inadimplência.

Uma característica comum das govtechs é ter como ponto de partida uma ideia aparentemente simples, mas que faz diferença ao gerar economia de tempo e dinheiro, além de expandir o raio de atuação dos órgãos públicos. A Fonte de Preços, por exemplo, oferece uma grande base de dados para servir de referência nas licitações públicas. Parece um ovo de Colombo, mas não é bem assim: ela junta informações de 30 portais de preços públicos disponíveis na internet com dados diários de transações contratadas, o que resulta em uma lista de nada menos de 50 milhões de preços de cerca de 300 mil produtos vendidos por 450 mil fornecedores. “A cotação de preços é a fase mais lenta de uma licitação. Leva 60 dias, em média. Já com a nossa base de dados de preços públicos, esse levantamento pode ser feito em cinco minutos”, garante Raffael Escarpini, CEO da Fonte de Preços.

A base de dados da Fonte de Preços relaciona os preços praticados até um ano atrás, o que significa que é atualizada diariamente. “Com as nossas referências, a negociação fica muito mais rápida e mais próxima da realidade também”, nota Escarpini. Caso o produto buscado seja muito específico e não figure na lista, a Fonte de Preços oferece uma cotação personalizada, comprometendo-se a levantar pelo menos três preços ao cabo de dez dias de pesquisa no mercado.

Alagoano de Porte Calvo, assim como o sócio Victor da Costa, Escarpini conta que a decisão de criar a govtechs veio de demandas que volta e meia recebia de prefeitos com dificuldade de encontrar referências para as suas licitações.  “Eu fazia esses levantamentos como consultor e percebi que o mercado pedia uma empresa que fosse especializada numa oferta de preços sistematizada”, afirma.

Fundada há apenas dois anos, a Fonte de Preços já captou 120 clientes fixos, entre elas as prefeituras de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e São José dos Campos, além de vários órgãos estaduais, tribunais de contas, Banco do Brasil e Infraero. A assinatura anual de sua base de dados custa R$ 6,5 mil, sem incluir pesquisas customizadas. E o horizonte de seu negócio é amplo: “O Brasil tem 18 mil órgãos públicos e nós atendemos só 120 deles, por enquanto”, diz.

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