CanalTech: Tecnologia no Poder Público? As novidades reservadas para os servidores públicos

Confira o artigo da Fundadora do BrazilLAB publicado em sua coluna mensal no Canaltech
Letícia Piccolotto Em 07 de March de 2022

Neste mês de janeiro, a Presidente do Conselho do BrazilLAB, Letícia Piccolotto, escreveu em sua coluna no CanalTech sobre como a pandemia impactou a digitalização dos serviços públicos e ressaltou que transformações que levariam anos tiveram de ser implementadas em um tempo muito curto. Confira abaixo o texto na íntegra.

 

Tecnologia no Poder Público? As novidades reservadas para os servidores públicos

Com a pandemia da covid-19, a sociedade precisou se reorganizar rapidamente para se manter ativa mesmo com o distanciamento social. E nesse cenário de grandes demandas e incertezas, os servidores públicos foram os que mais precisaram se adaptar. Nas diferentes instâncias de governo, transformações que levariam anos tiveram de ser implementadas em um tempo muito curto; e como sempre discuto aqui, a grande maioria dessas mudanças esteve relacionada à digitalização de serviços para possibilitar o atendimento de cidadãos — como é o caso do auxílio emergencial.

A digitalização de serviços é um movimento que já estava em curso antes mesmo da emergência trazida pela pandemia. No governo federal, segundo dados da plataforma gov.br, dos quase 4,5 mil serviços oferecidos pela administração pública para cidadãos e empresas, cerca de 3 mil já possuem trâmite totalmente digital e podem ser acessados pelo computador ou por smartphones.

Mas mesmo diante de uma revolução digital, na qual as soluções tecnológicas passam a ser cada vez mais relevantes, o trabalho das pessoas segue como primordial e insubstituível, ainda que precise se modificar para incluir novas demandas e expectativas que surgem com o tempo. Nesse cenário, qual é o futuro do serviço público e como isso afeta os servidores públicos?

Essa indagação guiou o projeto “Servidor Público do Futuro”, liderado pela Fundação Brava, a Fundação Lemann, o Instituto Humanize e a Republica.org. Com o apoio do Institute for the Future (IFTF), organização de referência na agenda de foresight, a iniciativa aponta prognósticos de futuro para o serviço público no Brasil.

E é importante destacar: não existe apenas um futuro. O serviço público brasileiro tem um conjunto de possibilidades mais amplo e mais divergente do que em qualquer outra época nas últimas gerações. O que se perde em previsibilidade é ganho em experimentação, em crescimento e inovação. Os funcionários públicos estão se tornando inventores sociais, conselheiros, investigadores e provocadores.

O projeto “Servidor Público do Futuro” foi realizado com base na metodologia chamada foresight, também conhecida como prospecção de futuros. Trata-se de um modelo teórico que busca examinar mudanças presentes para traçar tendências futuras em diferentes áreas da sociedade. Com esse exercício de antecipação analítica, espera-se que as chances coletivas de tomar melhores decisões possam ser ampliadas.

 

O cenário para o futuro

Tendo como horizonte o ano de 2031, o estudo aponta oito prognósticos para o futuro dos servidores públicos no Brasil. Como esperado, a tecnologia é a principal força de mudança em pelo menos quatro deles, sobre os quais quero falar hoje.

Primeiro, os servidores serão chamados a terem um conjunto diverso de novas habilidades e competências. Conhecimentos técnicos continuam sendo relevantes, mas as competências socioemocionais e humanas passam a ser centrais. Em um cenário no qual novos desafios, demandas e tecnologias surgem a cada momento, os servidores públicos serão reconhecidos como “generalistas flexíveis” e especialistas na resolução de problemas complexos.

O segundo prognóstico aponta que as emoções dos cidadãos passam a representar um importante elemento de decisão para os governos, e que os servidores serão responsáveis por monitorar as diferentes reações frente a políticas públicas e novas leis. Conhecer como determinadas medidas impactam as pessoas passa a ser fundamental para mensurar as chances de sucesso de uma determinada ação do governo.

A tecnologia deve fazer com que a transparência governamental seja a regra e o sigilo se torne sempre uma exceção. Com isso, cidadãos e atores privados serão como “supervisores independentes” das ações governamentais, utilizando a tecnologia para acompanhar ações, o orçamento público e todas as medidas implementadas pelos governos. Os servidores públicos deverão assumir novos papéis para garantir a transparência, muitos deles relacionados ao diálogo direto com os cidadãos, mas também com a construção de ferramentas tecnológicas que permitam o compartilhamento de informações sobre a atuação governamental.

Por fim, o futuro dos servidores públicos deve ser marcado pela automação. Inteligência artificial, algoritmos, machine learning e todas as suas soluções serão responsáveis por conduzir grande parte das ações governamentais, fazendo com que novas funções sejam criadas, todas elas em simbiose e colaboração com as novas tecnologias.

Diante dessa análise, tenho uma certeza: a tecnologia é uma realidade em nossas vidas e sua presença, relevância e influência serão ainda maiores com o passar do tempo. Não há mais volta.

Mas o aspecto analógico da transformação digital segue como algo fundamental. Isto é, sem investir na formação de pessoas, sem promover uma transformação cultural do setor público para que ele seja mais aberto à inovação e sem rever processos atuais para combater a e-burocracia, não conseguiremos usufruir de todos os benefícios que a tecnologia pode nos trazer.

 

Confira o texto na íntegra no CanalTech.

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