A tecnologia de blockchain vem sendo alvo de muitas polêmicas. Conceito aplicado à cadeia de blocos distribuídos e compartilhados para gerar um índice global de transações, o blockchain nasceu em meados de 2009 com a tentativa de se criar uma moeda única — justamente o bitcoin, tão celebrado quanto temido. A criptomoeda já foi tida como a maior inovação dos últimos tempos, mas flutuações de preço e eventuais riscos ainda causam muitas dúvidas em investidores.
Deixando de lado essas especulações, existe um aspecto do blockchain que ainda não é muito conhecido: o do impacto social. Até porque um dos pontos fortes da tecnologia é a confiança, uma vez que ela tem, como alicerces, o peer-to-peer (não há intermediários nas transações, o que traz mais transparência), o Proof-of-Work (ou “Prova de esforço”, conceito que praticamente inviabiliza a alteração ou adulteração de transações) e o Consenso (o maior encadeamento de transações indica o consenso entre os usuários da rede).
Saem as polêmicas, entra a transformação social
Foi a partir desses alicerces que surgiu o Block-change, iniciativa da organização norte-americana GovLab para colocar o potencial do blockchain a serviço da transformação social, fornecendo ao poder público informações e ferramentas que melhorem os serviços prestados.
O principal objetivo é abrir novos caminhos para a transparência e a prestação de contas, além de ampliar a qualidade dos serviços públicos em diversas formas – incluindo o estabelecimento de identidades digitais confiáveis.
Para isso, o trabalho será realizado em etapas. A primeira delas envolve testar a hipótese de que, ao aplicarmos atributos de blockchain à gestão de identidade, uma espécie de RG digital confiável pode ser criada. E, caso seja validada, essa hipótese trará inúmeros benefícios, como:
- Documentos válidos para aproximadamente 1,1 bilhão de pessoas que, atualmente, são incapazes de provar suas identidades para autoridades e outras organizações, o que as priva de direitos básicos, como à propriedade e ir e vir;
- Identidades para 1,3 milhões de refugiados que estão tentando se realocar ao redor do mundo, mas que não podem ser identificados;
- Documentos para todas as mulheres e meninas que lutam para obtê-los, geralmente esbarrando em dificuldades relacionadas a: liberdade para viajar, distâncias, custos financeiros, limitações de tempo, analfabetismo, falta de informações e falta de suporte de familiares.
E para obter esses benefícios, o Block-change inicialmente atuará nos seguintes campos:
- Mapeamento e taxonomia das tecnologias de blockchain que procurem fornecer identidade;
- Desenvolvimento de uma cartilha com os potenciais e os desafios das tecnologias de blockchain em relação ao ciclo de vida da identidade (como criação, verificação, autenticação e autorização);
- Mapeamento do uso atual de identidades fornecidas por meio de blockchain para uma variedade de benefícios sociais, utilizando-se de estudos de caso;
- Co-criação de um conjunto de princípios de desenvolvimento (com base em evidências) que possam orientar o uso futuro de blockchain para a transformação social.
Em última instância, o Block-change pretende provar que o blockchain apresenta um potencial disruptivo que vai muito além da inovação em produtos, serviços e sistemas de operação das empresas.
Ao oferecer maior transparência de forma capilarizada, a tecnologia pode, também — e principalmente — transformar a vida de quem mais precisa. É a prova de que a inovação é capaz de tornar a gestão pública mais aberta, mais efetiva e mais próxima dos cidadãos. Por isso, o BrazilLAB celebra e repercute a iniciativa.