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Como um país pode fomentar o ecossistema GovTech? Conheça 5 caminhos listado por especialista

Especialista britânica menciona iniciativas que comprovadamente contribuem para a transformação digital do setor público. E o BrazilLAB está na lista.
Em 03 de March de 2020

Em artigo publicado recentemente no portal Apolitical (versão em inglês e versão em espanhol), a britânica Tanya Filer, que lidera um programa de apoio à transformação digital do setor público na Universidade de Cambridge, listou iniciativas que ela considera fundamentais para fomentar um ecossistema de govtech. Filer sabe do que fala: além de pesquisadora, ela também é diretora da StateUp, uma consultoria multidisciplinar especializada em inovação digital para governos. Sob seu comando, a StateUp conduziu um amplo estudo sobre govtech na América Latina.

Entre os principais resultados da análise, Filer constatou que, no geral, empreendedores latino-americanos estão pouco conectados ao poder público. Entre as causas, ela aponta o fato de que, historicamente, governos locais tendem a favorecer grandes empresas fornecedoras de tecnologia, uma abordagem que repele empresas jovens e que favorece a corrupção. Além disso, startups enfrentam processos burocráticos, que desestimulam a busca de parcerias com governos. 

 

Cultivando o ecossistema

O resultado se revela nos dados: de acordo com pesquisa realizada pelo Global Entrepreneurship Monitor, em 2017, apenas 12.2% da atividade empreendedora na América Latina focou no setor público, no serviço social ou em setores correlatos índice inferior a quase todas as outras regiões do globo. 

Para reverter esse cenário, Filer defende a necessidade de uma abordagem baseada no modelo de ecossistema. Ou seja, estimular a criação de uma comunidade de stakeholders comprometidos com a digitalização do setor público. Só assim será possível permitir o fluxo de ideias, de conhecimento, de produtos e de serviços entre fornecedores inovadores e governos.  De acordo com Tanya Filer, tanto governos quanto sociedades da América Latina devem focar nas seguintes etapas para constituir essa comunidade govtech: 

 

União em torno de uma causa comum

Assim como ocorre com qualquer política de inovação, para obter o apoio mais amplo e ativo das comunidades, os gestores públicos devem formatar o ecossistema de GovTech de acordo com as necessidades e aspirações locais. Em outras palavras, precisam contextualizar as iniciativas de inovação a partir das prioridades e dos objetivos de cada país.

 

Envolvimento mais claro e mais ágil com o mercado 

Em toda a América Latina, há uma necessidade evidente de maior envolvimento do setor público com o mercado. Gestores públicos da região podem aprender com a experiência de outros governos que buscaram ampliar a cadeia de potenciais fornecedores de inovação. 

O Reino Unido, por exemplo, embutiu uma função de lead de engajamento no portal GovTech Catalyst, o carro-chefe do ecossistema de govtech local. A Escócia criou um site para explicar os processos de compra do governo para novas empresas entrantes  — o que é feito por meio de uma linguagem simples e sem jargões. 

Tanya Filer menciona também iniciativas que surgem fora da esfera pública. Ela destaca o Selo GovTech do BrazilLAB, que descreve como uma plataforma que apresenta startups que endereçam desafios do setor público. Filer aponta que aumentar a visibilidade da atividade empreendedora ajuda a construir pontes entre demandas governamentais e soluções disponíveis no mercado.

 

Atualização de estruturas de licitação e da cultura governamental

Filer conta que, durante a elaboração do estudo, um empreendedor chileno revelou que “nem sequer tenta” buscar contratos com o governo, apesar de ter um produto adequado para oferecer. Para ele, os players maiores, já mais familiarizados com o setor público, sempre vencem.

Não é incomum a convicção de que contratos com governos são inviáveis. Nos casos em que o empreendedor chileno está correto e governos de fato não consideram comprar de startups como a dele, essas barreiras devem ser endereçadas por meio tanto de transformação cultural quanto de mudança sistêmica. 

Na América Latina, no entanto, estruturas de compras públicas costumam não ser a primeira barreira — o bloqueio ocorre mais em como elas são historicamente interpretadas e promulgadas. Muitos países da região abrem espaço para a competitividade, o que permite ao mercado oferecer produtos adequados; mas a implementação é ou desorganizada ou confinada a casos complexos específicos. 

Tanya Filer explica que atualizar a forma como estruturas são implementadas vai exigir treinamento e mudanças na cultura organizacional, no sentido de que governos se abram mais à experimentação. Isso também pode exigir um novo tipo de gestão de projetos nas organizações governamentais, se os contratos forem divididos entre fornecedores múltiplos, de menor porte.

 

Medição e avaliação

Conforme a pioneira cidade de Barcelona descreve em seus princípios licitatórios, "A aquisição não pode terminar quando o contrato é assinado”. Um "sistema de monitoramento e de controle deve então ser estabelecido durante a execução”, e os resultados devem ser avaliados. 

 Em uma escala global, a medição e a avaliação são considerados processos fracos quando se trata de programas público-privados, da aceleração à pilotagem. Entretanto, a coleta e a análise de dados de performance desde o primeiro momento podem fornecer a evidência empírica necessária para ativar políticas de inovação. 

Tanya Filer conclui afirmando que medição e avaliação transparentes são cruciais para o desenvolvimento do ecossistema: resultados de análises podem manter a comunidade nos trilhos para que objetivos em comum sejam atingidos.

 

Confira o artigo na íntegra no site do Apolitical (disponível em inglês e espanhol).

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