Uma iniciativa altamente inspiradora aconteceu recentemente nos Estados Unidos. Trata-se da premiação Mayors Challenge (Desafio dos Prefeitos), organizada pela Bloomberg Philantropies, que estimulou a criação de soluções inovadoras para demandas importantes dos municípios. Na etapa final, foram selecionadas 35 cidades norte-americanas -- as campeãs --, que receberam 100 mil dólares cada para trabalhar em ideias específicas para áreas como energia limpa, transporte e segurança.
Após passarem vários meses testando protótipos de seus projetos com os cidadãos, e depois de revisar os modelos de acordo com os feedbacks que recebiam, as gestões municipais submeteram suas aplicações à fase final da competição. A grande final ocorrerá em outubro, e as cidades selecionadas receberão um aporte de cinco milhões de dólares.
O modelo de design centrado no ser humano é bastante novo para Governos. Por isso, as prefeituras trabalharam lado a lado com especialistas em inovação, que exerceram o papel de coaches ao longo do processo.
A Bloomberg Cities conversou com esses especialistas no começo do trabalho, em março deste ano, e mais recentemente. E compartilhou neste artigo (em inglês) suas impressões e opiniões a respeito. Abaixo, compartilhamos essas informações, tão relevantes para o processo de modernização do setor público:
James Canfield, fundador da agência digital MAG7 Collective: Fiquei surpreso com a vontade que os cidadãos demonstraram de participar do processo de co-criação. Acredito que as cidades contaram com muita boa vontade dos residentes que puderam participar. Essa disposição deu, à gestão pública, a possibilidade de ter mais tempo para fazer eventuais correções após a implementação das soluções.
Laura Hyde Page, Líder de Projetos da consultoria em inovação Jump Associates: De minha parte, fiquei surpresa ao ver o quão profundamente os times com que trabalhei sentiram a responsabilidade e a confiança que os cidadãos depositaram neles. E agora tenho um novo entendimento do porquê é tão difícil, para eles, sair de suas zonas de conforto quando se trata de realizar testes com os residentes. Também testemunhei os times esforçando-se muito para sair dessa zona de conforto, e compartilhei o prazer que sentiram ao receberem feedbacks positivos das comunidades com que trabalhamos.
Ruben Ocampo, fundador da empresa de consultoria em inovação Conic Group: é incrivelmente alentador ver as pessoas sem medo de compartilhar suas ideias com o máximo de gente possível. No mundo corporativo, muitas vezes as pessoas podem ser um tanto reservadas em relação a suas ideias, com medo de que alguém a use antes. Isso é contraproducente, e causa a morte de muitas ideias boas.
No entanto, as cidades com que trabalhei estavam bem menos preocupadas em serem “donas” das ideias, e muito mais focadas em seus impactos e objetivos. Se alguém mais soubesse da ideia, isso não era visto como risco, mas como ativo. As ideias foram vastamente compartilhadas e atraíram muito engajamento, entusiasmo e apoio. Nesse quesito, creio que o setor público em geral está bem à frente do setor privado.
Ryan Baum, Diretor da Jump Associates: meu conselho seria: faça testes pequenos. Você não precisa construir toda a solução piloto para que aprenda. Identifique as incertezas mais críticas e então teste formas de solucioná-las em uma escala menor.
Amanda Noonan, Diretora de Estratégia da Frog Desing: Não tente ser perfeito. Prefira a agilidade e o teste rápido de ideias com os cidadãos. Quanto mais testamos, mais aprendemos. Trata-se de manter sempre o movimento adiante, no sentido de aprimorar as soluções, e manter-se aberto e vigilante àquelas pedras preciosas, os "desconhecidos" que nos ajudam a responder demandas de formas que realmente funcionam.
Erik Olesund, co-fundador da consultoria de inovação Collective Capital: Meu conselho é uma pergunta: o que você quer ter criado daqui a um ano? Com a resposta, faça-se outras perguntas: quem vai ser “dono” disso? Construir isso? Manter isso? Obtenha essas parcerias e coloque as capacidades no lugar certo o quanto antes possível.
James Canfield: assegure-se de que você tenha um entendimento claro do problema que pretende resolver. Antes de testar as hipóteses subjacentes por trás da solução proposta, teste as suposições que você tem a respeito do problema.
Laura Hyde Page: prepare-se para realizar testes rápidos, de baixa fidelidade com os residentes ao longo da evolução de uma ideia. Sei que é tentador esconder, das pessoas, a bagunça da cozinha enquanto uma ideia está sendo preparada, mas os cidadãos podem preferir participar disso se forem engajados na hora certa e com frequência. Isso não só garante que sua ideia traga respostas a necessidades reais, mas também suaviza o caminho para a implantação.
Confira o artigo na íntegra no perfil da Bloomberg Cities no Medium.