*Texto publicado originalmente na coluna semanal de Letícia Piccolotto no UOL/Tilt.
Com a incorporação de novas tecnologias aos diversos tipos de empresas e organizações, o nosso modo de viver, trabalhar, aprender e se relacionar tem se transformado profundamente. Ainda assim, para que toda a potencialidade das soluções digitais possa ser plenamente utilizada, um componente permanece sendo estratégico, fundamental e escasso: as pessoas. Profissionais digitais, como engenheiros de softwares, programadores e designers, são os grandes responsáveis pela criação e desenvolvimento das diversas soluções tecnológicas que existem hoje e, principalmente, as que devem surgir no futuro próximo. E nessa dimensão, o mundo enfrenta um grande desafio: não há profissionais em número suficiente e com a formação necessária.
No Brasil, o cenário é ainda mais grave: segundo pesquisa realizada pelo BrazilLAB e pela Fundação Brava, em parceria com o Center for Public Impact (CPI), caso nenhuma medida seja tomada, o déficit de profissionais digitais deve continuar crescendo a uma taxa de 24 mil pessoas ao ano e pode atingir o alarmante número de mais de 300 mil pessoas até o ano de 2024. Diante deste cenário, muitas iniciativas surgiram nos últimos anos para garantir a formação de profissionais em quantidade e qualidade necessárias.
Conhecidas como bootcamps ou edtechs, elas prometem formar programadores em meses e até mesmo semanas, aplicando conceitos inovadores para o ensino, tais como self-paced, peer-to-peer e project based learning. Os termos convergem para um só caminho: formar pessoas que saibam trabalhar de maneira colaborativa, com base em problemas reais e que, diante das diversas transformações que o setor deve enfrentar, possam sempre se atualizar e serem especialistas em aprender. Paralelamente às iniciativas de formação, o setor de tecnologia tem também se reinventado.
Low-code: toda empresa já é de tecnologia
Com o objetivo de trazer mais fluidez, autonomia e rapidez, surgem as chamadas ferramentas low-code e no-code. Com elas, qualquer organização pode desenvolver soluções tecnológicas, mesmo que seus colaboradores não sejam experts em R, Java ou Python. As tecnologias low-code e no-code têm como base uma importante premissa: com a transformação digital, não existem mais empresas de tecnologia. Todas as empresas são tecnológicas e, em alguma medida, se utilizam de soluções digitais para ofertar seus bens e/ou serviços. Sendo assim, a produção de tecnologias também precisa ser acessível e simples, inclusive para os que não são especialistas em programação.
Essas plataformas foram criadas com o objetivo de maximizar o poder dos times de TI, diminuindo ou até eliminando a quantidade de código necessário para o desenvolvimento de soluções. Com elas, as equipes podem ter uma maior produtividade, assim como profissionais com conhecimentos básicos em desenvolvimento, que não dominam todas as tecnologias necessárias para construção de soluções, mas que conhecem o negócio, podem agregar valor. O chamado low-code nomeia as plataformas de "pouco código". Esta foi a primeira modalidade a ganhar espaço, trazendo os componentes prontos para o profissional utilizá-los em sua aplicação, permitindo também a customização e a criação de novos elementos. Com ele é possível, por exemplo, criar aplicativos, automatizar processos, disponibilizar relatórios e dashboards em tempo real, tudo isso sem que haja a necessidade de um conhecimento mais aprofundado em linguagens de programação.
No-code: para o micro e pequeno empreendedor
Já o no-code se difundiu posteriormente e possibilitou a redução completa da programação, ou seja, o profissional não precisa se preocupar em ter experiência e conhecimento prévio no desenvolvimento de códigos. A criação de softwares acontece por meio de uma interface com modelos que reúnem várias ações. O no-code é destinado, principalmente, aos micro e pequenos empreendedores, que possuem uma baixa demanda em TI .
No mercado já existem diversas plataformas, amplamente difundidas em seus nichos, que fazem parte dessa modalidade de pouco código. De acordo com estudo da Deloitte, só o processo de construção de códigos com o low-code pode ser de 50% a 90% mais rápido do que uma abordagem tradicional, isso porque os softwares possuem comandos que criam linhas automaticamente, facilitando o desenvolvimento de aplicativos por quem não sabe a linguagem da programação, beneficiando também quem domina essa tecnologia, já que libera tempo destes profissionais para o desenvolvimento de soluções mais complexas e disruptivas.
O low e no-code consolidaram o conceito de citizen developer no mundo da tecnologia. O termo representa pessoas que não possuem formação de tecnologia, mas que são capazes de criar soluções específicas para o próprio trabalho. Com treinamento e conhecimento básicos, esses usuários podem desenvolver ferramentas com pouca ou nenhuma programação com um ambiente próprio para esse fim. E o cenário para esse mercado é muito positivo. Segundo análise da consultoria Gartner, até 2024, mais de 65% dos softwares e aplicativos serão desenvolvidos em low-code, com expansão média de 40% ao ano. De acordo com o relatório, o mercado movimentou mundialmente cerca de US$ 13,8 bilhões (R$ 72,67 bilhões) em 2021, um crescimento de 22,6% em relação a 2020, quando foi alcançada a cifra de US$ 11,2 bilhões (R$ 58,98 bilhões).
Tanto o low-code quanto o no-code possuem um desafio em comum: popularizar a cultura do pouco, ou nenhum código, no mercado brasileiro. É preciso entender, de fato, o potencial dessas tecnologias e adotá-las considerando o contexto nacional. Não tenho dúvidas de que os profissionais digitais ainda seguem sendo primordiais para a transformação digital. No entanto, as ferramentas low-code e no-code podem ser aliadas fundamentais para a democratização da tecnologia. Com elas, as organizações, mesmo pequenas e com poucos recursos, podem se inserir no universo de possibilidades trazidos pela transformação digital. E os profissionais das mais diferentes áreas de atuação ganham um suporte para melhorar seu trabalho e ter mais agilidade na resolução de problemas.
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