Ainda estou processando tudo o que vivi ao participar de mais uma edição da SXSW, considerada por muitos como um dos maiores eventos de tecnologia, inovação e economia criativa do mundo.
A South By Southwest (SXSW) teve por mais um ano uma edição diferente: a programação foi oferecida em um formato híbrido, com a possibilidade de acompanhar as diversas palestras, shows e apresentações presencialmente ou online.
Todos os anos, os organizadores oferecem uma programação diversa e atual, visando dialogar com as principais novidades do ecossistema.
Nomes como Quentin Tarantino, renomado diretor de cinema, Kevin Systrom e Mike Krieger, fundadores do Instagram, além de Barack e Michelle Obama participaram das edições do SXSW.
Um dos destaques da programação deste ano, sem dúvida, foi a palestra de Amy Webb, uma das principais futuristas da atualidade —falei sobre o que é futurismo e foresight aqui.
Webb é CEO do Future Today Institute, organização que há 15 anos organiza e publica o Tech Trends Report, relatório que, em 2022, apresentou aproximadamente 600 tendências de tecnologia e inovação em 14 diferentes áreas —de criptomoedas a segurança pública. (Falei sobre os resultados do relatório para a área de saúde aqui.)
Vale a pena conferir a apresentação da Amy na íntegra e difundir os seus conceitos e reflexões —você pode acessá-la aqui.
E um outro importante destaque da edição 2022 foi a seção sobre inteligência artificial.
O documento apresenta as principais tendências para a aplicação dessa tecnologia em diferentes setores, como consumo, economia criativa, geopolítica e pesquisa. Uma das possíveis aplicações será altamente disruptiva: o uso da inteligência artificial para detectar, medir, compreender e simular emoções humanas.
Em um futuro muito próximo, afirma um artigo da MIT, você pode não se lembrar ao certo que sentimentos teve ao assistir a um determinado comercial de televisão sobre um produto ou serviço, mas a emotion AI, como tem sido chamada essa subcategoria da inteligência artificial, certamente saberá.
Esse recurso poderá ser aplicado das mais diferentes formas. Em comum, ele promete uma interação muito mais próxima entre máquinas e seres humanos, além de trazer maior previsibilidade às soluções tecnológicas criadas.
As aplicações da emotion AI já demonstram esses resultados.
Um grupo de pesquisadores da Universidade Queen Mary, em Londres, realizou um experimento com ondas de rádio que, conectadas a um algoritmo de inteligência artificial, conseguiam medir a reação dos participantes --nojo, medo, alegria ou relaxamento-- expostos a diferentes vídeos. A tecnologia acertou em 71% das vezes.
A solução de inteligência artificial da Affectiva Human Perception, por sua vez, analisa os estados de ânimo de indivíduos a partir da fala e vídeos. A solução tem sido aplicada pelo setor automotivo para identificar as condições emocionais de um motorista --como cansaço ou raiva-- e, com isso, apresentar sugestões de como melhorar a direção, segundo o Tech Trends Report.
Já o MIT Media Lab desenvolveu um wearable capaz de, pela medição dos batimentos cardíacos, apontar se o indivíduo está passando por um momento de stress, dor ou frustração.
Há também possibilidades de aplicação da emotion AI como uma forma de tecnologia assistiva, por exemplo, para indivíduos com autismo. A tecnologia pode mapear sinais sutis, quase nunca captados por humanos, e permitir uma conduta mais adequada junto a esse grupo.
E as soluções atuais têm ido além, permitindo não somente a leitura de emoções, mas também a replicação delas.
É o que mostra o trabalho de pesquisadores de companhias como Loving AI e Hanson Robotics, que estão ensinando máquinas a desenvolverem sentimentos como amor, felicidade, medo e tristeza.
As aplicações para a área de saúde mental, por exemplo, são infinitas. Tecnologias que podem não somente mapear nossos sentimentos, mas também experimentá-los, podem gerar uma conexão muito maior entre pacientes e profissionais de saúde.
Com máquinas ganhando fluência na linguagem das emoções, uma questão bastante pertinente passa a surgir: estaríamos nós, humanos, nos tornando obsoletos?
Como já discuti diversas vezes, sou do grupo dos que veem com otimismo e cautela o avanço da tecnologia e, nesse tema, sigo com essa postura.
As múltiplas aplicações da emotion AI justificam o seu avanço; mas ele precisa vir acompanhado de limites claros para a sua utilização. Esses limites serão construídos a partir de um debate lúcido que defina princípios éticos para o desenvolvimento e aplicação dessas inovações —como já discuti aqui.
Outra vez, a principal máxima do universo da tecnologia volta a fazer sentido: as soluções serão tão justas e boas quanto assim determinarem os seus criadores.
Confira o texto na íntegra no UOL/Tilt.
>> Confira mais textos publicados na coluna semanal de Letícia Piccolotto no UOL/Tilt. <<