A pandemia de Covid-19 trouxe mudanças profundas para diversos setores da sociedade. Seu surgimento e, principalmente, a extensão de seu impacto não foram antecipados e, com isso, pessoas e organizações tiveram que se adaptar instantaneamente a uma nova realidade. Mas, e se pudesse ser diferente? Se tivéssemos a oportunidade de antever possíveis cenários e, com isso, orientar ações no presente para evitar estarmos despreparados no futuro?
Isso é o que propõe o projeto “Servidor Público do Futuro”. Fruto da parceria entre a Fundação Brava, a Fundação Lemann, o Instituto Humanize e a Republica.org, e contando com o apoio do Institute for the Future (IFTF), organização de referência no tema, a iniciativa produziu a pesquisa “A Próxima Geração do Serviço Público no Brasil: cenários e ferramentas”, que traz oito possíveis prognósticos de futuro para o serviço público no Brasil.
Diferente de um exercício de previsão ou futurologia, o chamado foresight ou prospectiva estratégica, é um modelo que busca examinar mudanças presentes para traçar tendências futuras em diferentes áreas da sociedade. Tendo por base esse exercício de antecipação analítica, espera-se que as chances coletivas de tomar melhores decisões possam ser ampliadas.
“O pensamento sobre o futuro sempre foi crítico para governos e há exemplos de diversos instrumentos utilizados para esse exercício, como planos diretores e o planejamento orçamentário. No entanto, temos visto que essas ferramentas tradicionais não dão conta de auxiliar a difícil tarefa de compreender quais são e como agem as forças que podem trazer mudanças cada vez mais impactantes para toda a sociedade e, principalmente, para o setor público. A covid-19 foi um importante divisor de águas nesse sentido, e evidenciou o desafio que enfrentamos diante dos momentos de crise. A relevância desse projeto está em propor que adotemos uma visão antecipatória das tendências futuras, cujos sinais são vistos hoje, e que podem impactar sobremaneira a atuação dos servidores públicos”, afirma Letícia Piccolotto, Presidente Executiva da Fundação Brava e Presidente do Conselho do BrazilLAB.
A crise trazida pela pandemia reforçou o quanto os servidores públicos seguem sendo fundamentais para prover serviços públicos para os cidadãos. Mas, qual é o futuro do serviço público e como isso afeta os servidores públicos? A primeira parte da resposta é que não existe apenas um futuro.
O serviço público brasileiro tem um conjunto de possibilidades mais amplo e mais diverso do que em qualquer outra época nas últimas gerações. O que se perde em previsibilidade é ganho em experimentação, em crescimento e inovação. Há uma onda de novas mudanças, demandas e tendências, de modo que os servidores públicos serão chamados a assumirem novos papéis, a desenvolverem novas habilidades e a atuarem em diferentes contextos e desafios.
O estudo mapeou oito possíveis prognósticos futuros para o servidor público no Brasil. São eles:
1. Governos municipais, grupos empresariais locais e ativistas na ponta trabalharão em conjunto para coordenar respostas políticas, fazer cumprir a regulamentação e continuar a fornecer informações para redes locais.
2. Os servidores públicos brasileiros serão incentivados a abraçar uma nova visão de seu trabalho como solucionadores de problemas empáticos, conselheiros, instrutores e restauradores sociais para uma sociedade ferida e desconfiada.
3. Como forma de melhorar a vida dos cidadãos brasileiros, o governo mudará de departamentos isolados e fixos para uma rede ad hoc de departamentos e forças-tarefa.
4. O conjunto de habilidades dos funcionários públicos mudará dramaticamente. O fato de as necessidades da sociedade estarem se tornando mais complexas e ferramentas burocráticas automatizadas estarem sendo usadas de forma mais ampla, os governos precisarão de trabalhadores com uma variedade de habilidades sociais, com uma diversidade de interesses e uma paixão pela educação cívica.
5. Mudanças nas tecnologias e novas políticas de transparência abrirão as portas dos governos para os cidadãos e atores privados.
6. Funcionários públicos e políticos contarão cada vez mais com mecanismos de vigilância para medir o quão popular - e mais importante, quão impopulares - novas leis e políticas são, com os resultados sendo usados para decidir quais legislações serão aplicadas e quais serão descontinuadas.
7. Funcionários, serviços e departamentos não-humanos surgirão à medida que a inteligência artificial se tornar mais capaz de interpretar dados e gerar políticas em colaboração com seres humanos.
8. Funcionários públicos, especialmente em países como o Brasil, serão forçados a fazer a transição de serem guardiões neutros da legislação e da burocracia para se tornarem ativistas que lutam para manter a democracia.
“É importante destacar que o papel do foresight é informar a tomada de decisão ao analisar mudanças observadas hoje e que podem resultar em futuros prováveis. Não há determinismo, uma tentativa de prever acontecimentos ou fazer recomendações sobre qual a melhor decisão a ser tomada. Os oito prognósticos apontam para tendências de futuro fortemente embasadas em evidências; o desafio a partir de então é o de entender como essas tendências, caso se consolidem, podem impactar o servidor público e, principalmente, que decisões podem ser tomadas desde já para reduzir os resultados negativos ou potencializar os efeitos positivos”, conclui Bruna Mattos, Gerente de Projetos da Fundação Brava.
A pesquisa “A Próxima Geração do Serviço Público no Brasil: cenários e ferramentas” será lançada no dia 02 de dezembro, às 16h, com a realização do seminário online que contará com a participação de Letícia Piccolotto, Presidente Executiva da Fundação Brava, Francisco Gaetani, Professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e Jacques Barcia, Pesquisador Afiliado ao Institute For The Future (IFTF).
As inscrições para o evento são gratuitas e podem ser feitas através do link: https://www.bit.ly/ServidorFuturo
Sobre a Fundação Brava: A BRAVA é uma organização sem fins lucrativos que desenvolve e apoia projetos e iniciativas inovadoras e de impacto para contribuir com o desenvolvimento do Brasil.
Sobre a Fundação Lemann: A Fundação Lemann busca tornar o Brasil um lugar mais justo e equitativo, garantindo o acesso à educação pública de qualidade para brasileiros de todas as origens e apoiando o desenvolvimento de lideranças comprometidas com a transformação social do Brasil.
Sobre o Instituto Humanize: Tem como propósito apoiar a atuação estratégica de entidades de referência voltadas para a promoção das cadeias produtivas da sociobiodiversidade. Por meio de um esforço coletivo, inteligente e coordenado, a Humanize também estimula ações de inovação no setor público. Seu objetivo é contribuir para o desenvolvimento sustentável e a geração de renda, estabelecendo alianças que estimulem o empreendedorismo inclusivo, o acesso a mercados e o empoderamento de comunidades e cidadãos.
Sobre a Republica.org: Instituto filantrópico, apartidário, não corporativo, anti-racista e 100% dedicado à melhoria da gestão das pessoas no serviço público brasileiro. Investem em projetos que nasceram com o mesmo objetivo. Financiam iniciativas de parceiros, instituições e pessoas que têm o mesmo desejo que nós: desenvolver e valorizar os profissionais do setor público no país, melhorando o atendimento a toda a população.