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GovTech Summit de Paris: o BrazilLAB esteve lá e traz os destaques para você

Autoridades, empreendedores, pesquisadores e investidores reuniram-se na capital francesa para debater a inovação no setor público. Veja aqui como foi.
Em 30 de November de 2018

No último dia 12 de novembro, o ecossistema de inovação em setor público da Europa esteve reunido em Paris. Organizado pelo Public.io, iniciativa que fomenta a aproximação entre startups e governos, o GovTech Summit foi um dos maiores eventos globais do setor. Entre empreendedores, gestores públicos, investidores, políticos e pesquisadores, quase três mil pessoas reuniram-se na Prefeitura da capital francesa para discutir como fortalecer os laços entre empresas e governos.

 

Brasil não fica atrás

Mariana Soares, Co-Founder do BrazilLAB, acompanhou tudo de perto. E a primeira percepção que teve foi a de que o Brasil não está muito atrás nas discussões que acontecem na Europa. “Logo no início, perguntaram quem já tinha participado de um evento dedicado a Govtech: apenas 20 pessoas de um auditório lotado levantaram as mãos - eu entre elas”. Lembrando que, em agosto, foi realizado em São Paulo o GovTech Brasil.

Na abertura do evento, Daniel Korski, CEO e co-fundador do Public.io, conversou com Justin Trudeau, Primeiro Ministro do Canadá. O premiê destacou que o uso de tecnologia pelo governo deve sempre contemplar a diversidade de gêneros e raças, e afirmou que seu país é referência na criação uma estrutura para o desenvolvimento ético de inteligência artificial.

 

Inteligência artificial amigável

Essa fala de Trudeau teve com alvo a China, cujo modelo de uso de IA, por não ser muito claro, é questionado por órgãos internacionais. De acordo com o líder canadense, os pesquisadores chineses têm uma vantagem ao poderem acessar volumes gigantescos de dados de saúde, por exemplo, mas que, em último caso, isso pode ser prejudicial aos cidadãos.

O premiê afirmou que a singularidade do modelo de uso de IA canadense será mais amigável do que o que acontece no país asiático. O conceito de singularidade refere-se à ideia de que a criação de IA vai levar a uma grande transformação da tecnologia e da sociedade. E, para que isso ocorra, afirma Trudeau, é preciso haver proteção aos dados da população.

“Realmente acredito que, no médio prazo, ter uma estrutura melhor em operação vai nos permitir criar benefícios mais significativos para nossos cidadãos, mais qualidade de vida e melhores resultados para os algoritmos de IA,” afirmou Justin Trudeau na abertura do evento.

 

União Européia mostra o caminho

Mariana afirma que outro destaque do evento foram as iniciativas da União Européia no sentido de modernizar serviços e facilitar a vida da população. Uma delas é a adoção do Single Digital Gateway Regulation. “Trata-se de uma plataforma online -- e unificada -- que vai fornecer acesso fácil a informações e procedimentos diversos tanto para indivíduos quanto para empresas, além de prestar assistência e solucionar problemas,” conta ela.

A UE também está implementando o The Only Once Principle (TOOP), conceito de Governo Eletrônico que se tornou famoso na Estônia. O TOOP estabelece que os cidadãos não precisam apresentar mais de uma vez o mesmo documento; no caso da UE, isto ocorre não só em seus países de origem, mas também quando estiverem em outras nações pertencentes ao bloco.

 

Malta e a regulamentação do blockchain

Em outro painel, Joseph Muskat, Primeiro Ministro de Malta, falou da notável experiência de seu país com o blockchain. De acordo com ele, a ilha foi a primeira nação no mundo a regular a tecnologia. Isso está garantindo muito mais segurança jurídica às operações no país. Além disso, empresas e investidores sabem qual é a legislação aplicável a cada iniciativa que utilize o blockchain.

Identidade digital foi mais um assunto bastante discutido no GovTech Summit de Paris. “Falou-se muito sobre confiança e sobre como atingir isso por meio da identificação digital dos cidadãos,” conta Mariana Soares. De acordo com ela, já existem várias empresas construindo plataformas de identidade digital que estão sendo utilizadas por inúmeras cidades europeias: “na Holanda, mais de 100 municípios estão integrados por meio da tecnologia”.

 

O desafio da mudança de cultura na gestão pública

Um dos painéis mais interessantes do evento, de acordo com a CoFounder do BrazilLAB, foi aquele dedicado à cultura da administração pública, com integrantes de governos de diferentes países.

O debate ficou em torno da necessidade de funcionários públicos também serem empreendendores. O problema é que o mindset é totalmente o oposto: enquanto em uma startup o erro é permitido e até bem-vindo, no governo, em tese, equívocos não são permitidos. O funcionalismo fica engessado, mas essa mentalidade tem que mudar.

Gestores do Reino Unido apresentaram iniciativas para fomentar essa mudança. A principal é a capacitação dos funcionários sobre temas de tecnologia, como inteligência artificial; em contrapartida, eles que devem propor projetos que utilizem essas inovações.

 

Negócio de 1 trilhão de dólares

Chamou a atenção, também, um número apresentado no evento. Daniel Korski, da Public-io, anunciou que a indústria de GovTech, hoje avaliada em 400 bilhões de dólares, vai crescer 15% nos próximos seis anos -- e atingir a impressionante marca de 1 trilhão de dólares em 2025.

“Se olharmos para o crescimento exponencial que outros setores têm apresentado, e se considerarmos as demandas crescentes de populações que estão envelhecendo e dos demais cidadãos, não parecerá loucura imaginar a indústria de GovTech atingindo essa marca rapidamente,” afirmou o CEO da Public.io.

De acordo com Mariana Soares, todos esses elementos justificam o interesse cada vez maior da Europa pela inovação no setor público. “Pela presença no evento de vários membros de governo (chefes de estado, prefeitos, secretários e ministros), percebemos que o tema realmente está tomando conta do continente,” conta a CoFounder do BrazilLAB.

Ela afirma, no entanto, que o movimento tem sido local, para depois se expandir. “Investidores das startups que desenvolvem soluções para governos se mostram mais dispostos a focar em projetos com soluções locais, por ser mais fácil de prototipar e executar,” completa ela.

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