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Impacto em milhões de vidas e acesso a um mercado bilionário: o que startups perdem ao abrir mão do setor público

Especialista destaca grandes oportunidades que empreendedores deixam de lado ao focar somente o setor privado
Em 02 de July de 2019

Quantas oportunidades os empreendedores perdem ao negligenciar trabalhar com o setor público? Quão valiosas são tais oportunidades? Essas perguntas deram origem a uma oportuna reflexão de Kjartan Rist, sócio fundador da Concentric, um dos maiores fundos de venture capital da Europa. 

Neste artigo para a Forbes, Rist aborda o assunto com a propriedade de quem entende muito do ecossistema empreendedor global. De quem conhece a fundo os estágios de desenvolvimento de jovens empresas, e que sabe o quão perigoso pode ser deixar passar boas oportunidades. 

Ele começa lembrando que, assim como as empresas, os governos estão enfrentando o desafio de digitalizar seus serviços para se adaptarem a um mundo que muda rapidamente. “No entanto, são poucos os empreendedores que estão endereçando soluções para esse setor tão complexo, com serviços que abrangem milhões, ou mesmo bilhões de pessoas”.

 

O “desafio perfeito” para as startups

Rist afirma que os gestores públicos têm de lidar com problemas enormes de compliance, inadimplência, migração, terrorismo, cibersegurança, envelhecimento da população, saúde, entre outros. E que a tecnologia exerce um papel fundamental na resolução deles. 

Para o especialista em venture capital, esse vasto espaço de oportunidades e a demanda profunda por inovação significam que a digitalização do setor público torna-se o ambiente ideal para startups de ponta. “O amplo escopo de inovação, a possibilidade de fazer a diferença para milhões de vidas e um tremendo mercado em potencial — cujo valor deve chegar, em 2025, a 20 bilhões de libras só na Inglaterra, de acordo com este estudo — são, ou deveriam ser, o sonho de qualquer empreendedor.”

Por que Kjartan Rist acredita que são as startups que devem tomar a frente na digitalização de governos? “Por que, na essência, empresas jovens têm que encontrar soluções criativas e se adaptar rapidamente a circunstâncias que sempre mudam. Por isso, estão mais bem preparadas para atender às complexas demandas de governos”. Em sua essência, startups são ambiciosas, e essa ambição inclui fornecer respostas para as grandes questões que gestores públicos estão tentando resolver. 

 

Reino Unido acredita nas PMEs

“Os governos começam a se dar conta de que precisam do pensamento inovador e da criatividade das startups se realmente quiserem modernizar suas operações”, afirma Rist. Daí vem a ambiciosa iniciativa do governo britânico de investir 33% do orçamento de aquisições do setor público em pequenas e médias empresas até 2022, de acordo com este texto da Computer Weekly. 

Ainda que o cenário no Brasil seja um tanto diferente, também aqui verificam-se avanços. Legislações recentes, como a chamada Lei das Startups e a simplificação de mecanismos de contratação, estão abrindo caminho para que pequenas e médias empresas aproximem-se de governos. 

Diante desse contexto, fica a pergunta: por que ainda é baixo o número de startups trabalhando com o setor público?

Tanto aqui no Brasil quanto no exterior, a resposta parece a mesma. De acordo com Kjartan Rist, “a reputação do setor público faz com que a maioria das startups nem o considerem como potencial cliente”. Aqui já mencionamos um estudo que corrobora essa tese: trata-se da pesquisa realizada pela PUBLIC, empresa focada em GovTech, que revelou que 92% das PMEs ainda preferem trabalhar com o setor privado a fazê-lo com governos.

Lá como aqui, as causas são semelhantes: processos longos e pouco transparentes, montanhas de burocracia e contratos onerosos. É preciso mudar drasticamente tanto essas percepções quanto os trâmites governamentais se ambos os lados pretendem se beneficiar de tudo o que parcerias inovadoras podem oferecer.

 

A mudança é lenta, mas está acontecendo

Apesar dos estereótipos negativos, Kjaran Rist acredita que a transformação está ocorrendo, ainda que a passos lentos. Principalmente no setor público, o que gradualmente está tornando o segmento de GovTech mais atrativo para startups. 

Como exemplo, ele menciona outra iniciativa do governo britânico: a criação de um fundo de GovTech de 20 milhões de libras em 2017. Parte dos recursos vão para uma série de programas de aceleração e de premiações, muitos dos quais já foram bem-sucedidos. 

Para estimular uma adesão maior de startups ao setor público, Rist compartilha algumas dicas pontuais, mas que ele considera fundamentais para que empreendedores aproveitem as oportunidades oferecidas em GovTech. São elas:

  • Defina com cuidado quem é o comprador. Organizações do setor público são extremamente compartimentadas, com fluxo limitado de informações entre diferentes departamentos. Então, em primeiro lugar e acima de tudo, dedique tempo à identificação da pessoa certa, ou das pessoas, com quem você deve falar;
  • Ligue, não mande e-mails. Ligações telefônicas à moda antiga são a melhor forma de você acessar um mundo inundado pela burocracia. Use essas ligações para refinar suas pesquisas e para obter informações do comprador sobre as demandas reais e sobre como funcionam os processos de aquisição;
  • Dedique-se ao problema que o produto ou o serviço vai resolver. Você dificilmente falará com técnicos, então seja prático(a) a respeito dos benefícios oferecidos pela sua oferta;
  • Faça parcerias com outras startups. Trabalhar com uma grande organização é mais fácil do que gerenciar várias companhias pequenas, então tente formar consórcios sempre que possível, para oferecer serviços complementares de forma conjunta.

“Trabalhar com governos e com o setor público exige paciência e uma estratégia de longo prazo”, admite Kjartan Rist. “Mas não há dúvida de que aqueles que abrirem caminhos agora terão grandes, enormes oportunidades à frente, ao ajudarem gestores públicos a solucionar os maiores problemas que as nossas sociedades enfrentam”, conclui ele.

 

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