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Inovação: as causas do descompasso entre os setores privado e público

Tendo trabalhado com tecnologia tanto em empresas privadas quanto na administração pública, percebo obstáculos importantes para a transformação digital de governos. Mas acredito que seremos capazes de superá-los.
Em 27 de August de 2019

Nos últimos 25 anos, as chamadas TIC - Tecnologias da Informação e Comunicação - evoluíram muito. Todos nós fomos e estamos sendo impactados por importantes transformações decorrentes dessas inovações, seja como pessoa física/cidadão ou no ambiente de trabalho/empresarial. 

A onda de mudanças veio com a chegada e a evolução da internet, principalmente, e de outras tecnologias - algumas muito conhecidas, outras nem tanto. Cito algumas: padrões 3G, 4G e, brevemente, 5G na área das operadoras de telecom móveis; o significativo aumento de banda na internet fixa, através de conexões com fibra ótica; a grande evolução das funcionalidades dos aparelhos celulares; a tecnologia de computação em nuvem; inteligência artificial (IA); big data, internet das coisas (IOT), etc. Hoje, todas essas tecnologias estão disponíveis para serem usadas em novos modelos de negócios ou também para transformar negócios já em operação, e todas elas com custos bastante acessíveis. 

 

A revolução nas empresas

No setor privado, muita coisa está acontecendo, e de forma acelerada. Para comentar somente alguns casos, cito novas empresas que nasceram com um DNA totalmente calcado nessas tecnologias: Amazon, de comércio eletrônico e sua “irmã” de computação em nuvem (AWS – Amazon Web Services); Netflix, de streaming de vídeo; Uber, de gestão de táxi e outros serviços;  Airbnb, de gestão de propriedades para aluguel; Nubank, banco eletrônico; iFood, de entrega de refeições; Rappi, de entrega de quase tudo, e muitas outras. Iniciativas muito bem vindas, pois usaram tecnologias para melhor atender às necessidades dos seus clientes, oferecendo alternativas e preços competitivos. Assim, criaram “do zero” grandes negócios que estão prosperando de forma acelerada. 

Cito também empresas que usaram essas mesmas tecnologias para transformar seus negócios: diversos bancos de varejo e varejistas brasileiros são bons exemplos de que é possível fazer grandes transformações usando a tecnologia. Infelizmente, muitos não foram capazes de navegar nessa nova onda e ficaram para trás, sentindo o calor de concorrentes impactando nos seus resultados financeiros. Trata-se de uma característica inerente à livre concorrência. Em geral, o cidadão tem opções de escolha e decide por aquela que melhor atende aos seus interesses num determinado momento. E isso move as empresas a usarem essas novas tecnologias para se tornarem mais competitivas e prestarem melhores serviços.

 

Os obstáculos no setor público

E no caso de governos? Como tem sido a adoção de inovações tecnológicas? Bem, aqui, creio que todos saibam que os movimentos são mais lentos. De minha parte, tenho algumas explicações possíveis para essa morosidade. 

Primeiramente, cito o ciclo eleitoral, que não ajuda em uma visão de longo prazo. Os mandatários eleitos, por motivos no geral justificáveis, alteram as estratégias e prioridades e também as equipes dirigentes ao assumirem suas funções. Muitos não se preocupam com a performance e a produtividade da máquina pública; ou seja, não reestruturam e não definem métricas e objetivos para que a máquina de governo melhore sua performance ao longo do tempo. Tudo isso não ajuda a acelerar o passo das transformações.

Em segundo lugar, cito as dificuldades dos processos de compras/licitações, que são bastante burocráticos e não facilitam a introdução de inovações na gestão pública. 

Em terceiro lugar, e talvez o fator mais importante a atrapalhar a adoção de novas tecnologias nos serviços públicos, é a ausência do tema 'inovação' na agenda dos principais mandatários. O assunto costuma ser tratado pelo terceiro ou quarto escalões, e obviamente as transformações não ocorrem na velocidade desejada. No entanto, mais recentemente, alguns gestores têm afirmado, categoricamente, que estarão priorizando o uso das tecnologias TIC para ganhar produtividade e prestar melhores serviços públicos. A iniciativa é muito bem-vinda, e espero que tenha continuidade.

Adicionalmente, cito as complicações da legislação e regulamentos no nosso país, que afetam principalmente o setor privado. Por exemplo: as leis tributárias são um verdadeiro emaranhado de regulamentações (nesse sentido, é bem-vinda a reforma atualmente em discussão no Congresso); a legislação e os processos para abertura e licenciamento de empresas (é igualmente bem-vinda a MP da Liberdade Econômica). 

Vale destacar também que, hoje, o custo da implantação de  tecnologias para processar e melhorar os serviços é aumentado, uma vez que toda essa complexidade tem de ser “automatizada”. Por isso, a revisão e a simplificação dos emaranhados legais são fundamentais para a introdução de ganhos de produtividade e também para facilitar e acelerar os movimentos de inovação.

 

Exemplos que inspiram

Dito isso, e mesmo com todas essas dificuldades, cito alguns exemplos de avanços importantes no uso da tecnologia para prestar melhores serviços aos cidadãos brasileiros e paulistas: o sistema de votação eletrônico do TSE – Tribunal Superior Eleitoral; o sistema do imposto de renda da RFB – Receita Federal do Brasil; o Poupatempo do Governo Estado de São Paulo e a loja de aplicativos móveis SP Serviços, também do Governo do Estado de São Paulo. 

Ainda há muito por fazer, o que significa que temos uma imensa oportunidade para o uso dessas tecnologias para melhorar os serviços governamentais para os cidadãos. A pressão só aumenta - principalmente das novas gerações que, desde muito cedo, experimentam essas tecnologias através dos celulares. Os jovens, acostumados com as facilidades do Rappi, do iFood, do Netflix e de outras soluções digitais, certamente vão aumentar a pressão para que os serviços governamentais também evoluam nessa mesma direção. Assim, sonho que brevemente os gestores públicos tratem o uso das tecnologias TIC com a mais alta prioridade, como acontece nas grandes organizações do setor privado.

 

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