Inovação social e o potencial da interseccionalidade nas políticas públicas

A abordagem interseccional na administração pública, integrando ciclo de políticas públicas e Design Thinking, permite compreender profundamente as necessidades de grupos marginalizados, resultando em políticas eficazes e alocando recursos de forma otimizada, reduzindo desigualdades. Desafios persistem, mas há oportunidade de inovação para um Brasil mais inclusivo.
Guilherme Bayma Em 11 de December de 2023

A abordagem interseccional reconhece que as pessoas têm múltiplas identidades que se interconectam, como gênero, raça, classe social, orientação sexual, localização, idade e habilidades/deficiências. Isso resulta em uma complexa teia de desafios sociais e políticos que requer uma abordagem igualmente complexa. As vantagens de uma abordagem interseccional na administração pública são evidentes: Ela promove uma compreensão mais profunda das experiências e necessidades de grupos marginalizados, permitindo políticas mais sensíveis e eficazes.

Nesse sentido, o ciclo de políticas publicas oferece uma estrutura valiosa para compreender como a interseccionalidade pode ser utilizada na prática. As políticas desenvolvidas e implementadas com a análise interseccional podem e devem utilizá-la em cada uma das etapas do ciclo: Identificação do Problema; Formulação da Política; Implementação; Monitoramento e Avaliação. Contudo são nas fases de "Identificação do Problema" e "Formulação da Política" que a abordagem é particularmente mais interessante na minha visão. Unindo conceitos de Interseccionalides com Design Thinking, podemos realizar uma abordagem de múltiplos-fatores inclusiva baseada em evidências (Parker e Young, 2007).

Gráfico

 

Para tanto, temos um modelo dividido em quatro etapas:

 

1. Mapeamento: Nesta fase é preciso definir o problema publico, entendendo suas causas e consequências. Uma ferramenta interessante a ser utilizada é a Árvore de Problemas.

2. Perspectiva: Aqui, os problemas enfrentados por grupos que pertencem a várias categorias de identidade, como mulheres negras, ou pessoas com deficiência LGBTQIA+, são identificados e mapeados. Isso permite uma compreensão mais profunda da complexidade da discriminação e das desigualdades que esses grupos enfrentam dentro do contexto do problema público evidenciado.

3. Testes: Nesta etapa as ideias de soluções são desenvolvidas com a participação dos grupos envolvidos e projetos piloto são colocados em prática. A utilização da Árvore de Objetivos e da Teoria da Mudança podem ser as ferramentas utilizadas.

4. Avaliação: Finalmente, as soluções testadas na prática são avaliadas e aquela mais pertinente para o problema identificado e para os grupos envolvidos pode ser escolhida e escalonada, partindo para a fase de "Implementação" do Ciclo da Política Pública. Aqui, destaco que a utilização de métodos-mistos pode ser uma ótima escolha para uma geração de evidências robustas sobre as soluções, como a realização de avaliações de impacto aleatorizadas e grupos focais como uma das ótimas combinações existentes.

 

Sendo assim, esse tipo de abordagem pode trazer diversos benefícios socioeconômicos para a sociedade e para o governo. Ao entender as necessidades especificas de grupos interseccionais, os governos podem alocar recursos de forma mais eficaz, evitando o desperdício de recursos em políticas que não abordam adequadamente as desigualdades existentes. Isso contribui para a eficácia dessas políticas e reduz as disparidades econômicas.

Por outro lado, ainda existem desafios significativos para uma completa implementação da análise interseccional no Brasil, incluindo fatores como a coleta de novos dados, a resistência de grupos políticos e a necessidade de adaptação de modelos institucionais estabelecidos. Diante deste complexo contexto, é importante concluir que existem desafios, mas também uma grande oportunidade para inovar e criar um Brasil mais igualitário e inclusivo colocando a análise interseccional no centro da tomada de decisão na administração pública.

 

Referências:

MEDEIROS, Rogério de Souza. Interseccionalidade e políticas públicas. In Implementando desigualdades: reprodução de desigualdades na produção de políticas públicas. IPEA, 2019

 

PARKEN, A.; YOUNG, H. Integrating the promotion of equality and human rights for all. Cardiff, United Kingdom: Towards the Commission of Equality and Human Rights, 2007.

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