Jogamos fora 26,3 milhões de toneladas de comida. Revoltante? É muito pior

O desperdício de alimentos é um problema global que envolve a perda de recursos, como água, terra, energia, trabalho e capital, contribuindo diretamente para as mudanças climáticas.
Letícia Piccolotto Em 21 de March de 2023

 

*Texto publicado originalmente na coluna semanal de Letícia Piccolotto no UOL/Tilt. 

Uma estimativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) mostra que 17% dos alimentos disponíveis aos consumidores em 2022 foram diretamente para o lixo. Os dados indicam que as perdas e os desperdícios alimentares são um problema global e responsáveis por até 10% das emissões de gases do efeito estufa. O desperdício de alimentos representa uma grande perda também de recursos, que vai muito além dos produtos jogados fora. Isso porque a cadeia de produção de alimentos envolve uma multiplicidade de recursos para a sua sustentação. Podemos considerar, portanto, a perda de água, terra, energia, trabalho e capital, sem contar a geração desnecessária de emissões de gases de efeito estufa, que contribui diretamente para as mudanças climáticas.

Segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), de 140 milhões de toneladas de alimentos produzidos por ano, 26,3 milhões são desprezados. O dado por si só já seria revoltante mas, quando confrontado com o número de 33,1 milhões de brasileiros que estão em situação de insegurança alimentar grave, torna-se imoral. Em outras palavras, 15,5% da nossa população passa fome todos os dias enquanto desperdiçamos toneladas de alimentos.

A redução do desperdício alimentar oferece ganhos multifacetados para as pessoas e para o planeta:

·               Melhorando a segurança alimentar;

·               Combatendo as mudanças climáticas;

·               Poupando dinheiro e;

·               Reduzindo as pressões sobre a terra, a água, a biodiversidade e os sistemas de gestão de resíduos.

No entanto, infelizmente, este potencial não tem sido devidamente explorado. Estima-se que cerca de 1/3 ou 30% dos alimentos produzidos no planeta sejam desperdiçados ou perdidos por ano, chegando a 1,3 bilhão de toneladas, sendo 77 milhões de toneladas apenas na América Latina. De todo esse volume:

·               28% são perdidos no final do processo de produção

·               22% são durante o manejo e armazenagem

·               17% no mercado de distribuição (atacado)

·               28% ao final da cadeia, junto aos consumidores finais

·               Frutas e legumes representam cerca de 50% dos alimentos descartados a cada ano.

No Brasil:

Aproximadamente 3% de todos os peixes pescados na Amazônia acabam no lixo em virtude das más condições no transporte. Anualmente, os supermercados brasileiros desperdiçam um valor aproximado de R$ 1,3 bilhão apenas em frutas, legumes e verduras. Se somados aos dados da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), os montantes desperdiçados nas Ceasas e feiras livres, o Brasil certamente teria um imenso volume de alimentos que poderiam ganhar uma destinação muito mais digna através da doação a iniciativas como a Rede Brasileira de Bancos de Alimentos (Decreto nº 10.490/2020).

Atualmente, aproximadamente 45% dos supermercados brasileiros não participam de programas de doação de alimentos, mesmo tendo sido aprovada a Lei 14.016/20 que traz uma nova interpretação sobre a responsabilidade civil do doador, um dos principais temores de quem poderia contribuir com doação. Segundo relatório do Boston Consulting Group, por ano, sem ações globais, as perdas e desperdício poderão atingir o equivalente a US$ 1,5 trilhão em 2030. Para lidar com a necessidade de iniciativas globais, foi anunciada durante a Cúpula dos Sistemas Alimentares, realizada em 2021 pelas Nações Unidas, a coalizão global "Food is Never Waste", da qual o Brasil é um dos países signatários.

Confira o texto na íntegra no UOL/Tilt.

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