*Texto publicado originalmente na coluna semanal de Letícia Piccolotto no UOL/Tilt.
As ciências da saúde sempre ocuparam um lugar de importância e destaque social. Porém, devido às suas especificidades, acompanhar as inovações e os avanços tecnológicos desse campo costumava ser um interesse que ficava restrito a um grupo seleto de profissionais e acadêmicos. Esse movimento tende a mudar após a pandemia da covid-19. Depois dela, o universo da saúde passou a ser domínio público, e termos técnicos antes pouco difundidos —como "período de incubação", "variantes" e "epicentro"— passaram a fazer parte do nosso vocabulário cotidiano. E não à toa, notícias sobre inovações e descobertas da saúde vêm ocupando um lugar de destaque em jornais, na televisão e, sobretudo, nas redes sociais.
Ainda que com debates e polêmicas, me parece seguro dizer que a ciência, a tecnologia e a inovação alcançaram um importante patamar de relevância como elementos para garantir a nossa sobrevivência e soberania em tempos de crise. Apesar dos desafios que o campo vem enfrentando no Brasil e no mundo —como a diminuição das taxas de vacinação infantil, conforme discuti em meu último texto—, as perspectivas de avanço são positivas e nos trazem esperança em tempos ainda tão difíceis. Um bom exemplo disso é o desenvolvimento da vacina da BioNTech, que busca combater diferentes tipos de câncer, como o câncer de pele (melanoma) e o de intestino. Segundo a empresa alemã de biotecnologia, os primeiros imunizantes oncológicos devem ficar prontos antes de 2030. Outro exemplo de inovações é o desenvolvimento de um novo medicamento para combater o Alzheimer. Os resultados preliminares apontam que o medicamento reduziu em 27% a taxa de declínio cognitivo dos pacientes.
Inovação puxada pela covid-19
A pandemia também acelerou a agenda de inovação em saúde. Novas tecnologias digitais, como metaverso, internet das coisas e inteligência artificial, estão transformando as rotinas de profissionais da saúde e melhorando a vida dos pacientes. Hospitais, laboratórios e indústrias farmacêuticas têm incorporado a inovação e a digitalização como estratégias para ganhar mais eficiência operacional. Mais uma vez, a pandemia parece ter sido a propulsora desse processo: segundo pesquisa da KPMG, na opinião de 97% dos CEOs entrevistados que atuam nas mais diversas instituições da saúde, a covid-19 foi responsável por acelerar as mudanças tecnológicas que ocorreram no setor. Este cenário fomentou o surgimento e crescimento das chamadas healthtechs, as startups voltadas ao setor saúde.
De acordo com um levantamento feito pela Liga Ventures, em parceria com a PwC Brasil, o número de healthtechs no país aumentou 16,11% entre 2019 e 2022. Segundo a pesquisa, os segmentos com mais empresas ativas são planos e financiamento (8,31%), seguida por gestão de processos (7,81%), passando por exames e diagnósticos (6,80%).
Segundo o estudo Inside Healthtech Report, as startups de saúde ocuparam a posição de quarto maior crescimento em 2021, com um investimento de R$ 530,6 milhões, resultando em um aumento de 402% em comparação ao ano anterior. Com isso, a tendência é que a concorrência com as empresas tradicionais do setor se torne cada vez mais acirrada, semelhante ao que acontece hoje entre os bancos tradicionais e as fintechs.
O estudo Distrito Healthtech Report 2022 destaca que, no Brasil, em 2022, há 1.023 healthtechs nos mais diversos estágios e tipos de soluções. Um dos exemplos trazidos pelo relatório é a healthtech de Ribeirão Preto, GlucoGear. Sua principal missão é melhorar o controle glicêmico em pacientes com diabetes, e para alcançar esse objetivo a startup desenvolveu uma inteligência artificial que prevê as variações de glicose no sangue e identifica possíveis riscos de hipoglicemia e hiperglicemia. Outro destaque é a WeConecta, healthtech que desenvolveu um sistema de inteligência artificial para prevenção e identificação de perfis de risco para o desenvolvimento de doenças não comunicáveis.
Seu atendimento funciona de forma simples, via WhatsApp. Por meio de uma assistente virtual, os usuários recebem uma pontuação que indica quais são as chances de desenvolverem doenças crônicas e orientações sobre melhoria de hábitos e prevenção.
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O cenário de avanços para o setor da saúde é muito positivo.
Estamos apenas no início de uma curva ascendente para o desenvolvimento de novas tecnologias que prometem trazer maior longevidade e qualidade de vida. O desafio, agora, é garantir que esses serviços de qualidade estejam disponíveis para toda a população, atuando para concretizar um dos direitos mais fundamentais da vida humana: a boa saúde.
Confira o texto na íntegra no UOL/Tilt.
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