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O governo como plataforma aberta

Ronaldo Lemos cita BrazilLAB em Artigo na Folha - A infraestrutura para transformar as cidades em "inteligentes" já está entre nós.
Em 04 de December de 2017

A infraestrutura para transformar as cidades em "inteligentes" já está entre nós. Ela não virá de fora, nem precisará ser comprada por alto valor. Ela já está no bolso da maioria das pessoas. Basta pensar no seguinte: dá para dividir os condomínios residenciais em dois tipos, aqueles em que os moradores se organizaram por meio de um grupo de mensagens no
celular e aqueles que não fizeram isso.

A vizinhança ou prédio que criou um grupo para troca de mensagens percebe imediatamente o impacto positivo. Os problemas são identificados mais rápido, a administração fica mais transparente e até a segurança melhora em razão da troca constante de informações.

Já os que não se organizaram dessa forma dependem de uma figura central, como um síndico, para identificar problemas e iniciar ações. Ou de reuniões de condomínio, prática usualmente obsoleta e ineficaz.

Esse tipo de estratégia simples e de baixo custo pode ser assimilada no plano das cidades. Por exemplo, a cidade de Washington, capital dos EUA, criou o portal Grade DC ("dê uma nota para Washington"). Da mesma forma como toda vez em que alguém usa um serviço de transporte compartilhado avalia o prestador do serviço, cidadãos podem avaliar os serviços governamentais toda vez em que são utilizados. Foi a um posto de saúde? Teve uma má experiência? Dê uma nota baixa para ele.

As notas são então agregadas e publicadas. Isso é bom para o gestor público, porque sabe exatamente onde há deficiências na prestação do serviço. É bom também para o cidadão, que passa a contar com um canal direto para avaliar a administração pública, transparente e sem burocracia.

Para além dessas experiências de inovação vindas do próprio poder público, há também uma forte onda de start-ups criadas para inovar em campos de atuação governamental. Dá para chamá-las de "GovTechs". No Brasil, um dos epicentros dessa onda é o Brazil Lab, programa de apoio à inovação no setor público. Ele acelera projetos e conecta
empreendedores com o setor público.

Entre as start-ups selecionadas para este ano está a MonitorGov, que analisa portais de compras governamentais, criando modelos preditivos de como serão as compras futuras. Em outras palavras, traduzem os padrões de compras públicas em sinais para o mercado, o que permite gerar transparência e competitividade. Ou ainda o Kitado, start-up especializada em renegociar
dívidas de contribuintes com o fisco.

Todas as iniciativas de GovTech apontam para um único caminho: entender o governo como uma plataforma aberta. Esse é o futuro da gestão pública. Da mesma forma como as grandes plataformas da internet cresceram abrindo seus "APIs" para desenvolvedores externos, o governo precisa fazer o mesmo. Precisa abrir suas engrenagens para que empreendedores possam criar
novas soluções a partir delas.

Em outras palavras, esse é o modelo de parceria público-privada que faz sentido. Uma que convida todos os cidadãos e inovadores a criar soluções, promovendo transparência e eficiência.

 

Fonte: Folha | Ronaldo Lemos

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