Opinião: Letícia Piccolotto – US$ 55 bi por ano para startups ‘verdes’. É suficiente para salvar o mundo?

Novas tecnologias como importantes aliadas na tentativa de refrear os impactos das mudanças climáticas atuais.
Letícia Piccolotto Em 14 de June de 2022

*Texto publicado originalmente na coluna semanal de Letícia Piccolotto no UOL/Tilt.

As evidências de que a Terra está em situação de urgência são cada vez mais abundantes e apontam para uma clara ameaça à nossa sobrevivência.

 

As questões que afligiam especialistas, lideranças públicas e toda a sociedade se complexificaram exponencialmente e, hoje, podem ser sintetizadas em três principais desafios de uma grave crise ambiental: mudanças climáticas; perda da natureza e da biodiversidade; e poluição e resíduos.

 

É importante considerar que a crise é sistêmica e generalizada. Isso porque, concomitantemente ao agravamento da questão ambiental, nossa humanidade vive hoje os efeitos da pandemia de covid-19 e de conflitos ao redor do mundo, como o caso da guerra da Ucrânia (que, advertem os especialistas, não deve terminar tão cedo quanto gostaríamos).

 

Essas adversidades têm refletido e acarretado na ampliação de problemas sociais, como crises energéticas e de alimentos, intensificando a desigualdade e pobreza.

 

Mais investimentos em tecnologias climáticas

 

A mobilização de toda sociedade é fundamental, mas como já discuti aqui, as novas tecnologias serão aliadas estratégicas para a agenda do meio ambiente. Sem elas, não conseguiremos alcançar as mudanças necessárias e garantidoras de nossa sobrevivência no planeta.

 

A excelente notícia é que há milhares de empreendedores comprometidos com a construção de soluções para esse desafio coletivo.

 

É o que aponta o relatório da consultoria e auditoria PwC de 2021, que destaca o surpreendente número de mais de 3.000 greentechs, ou seja, startups que atuam nos desafios ambientais globais.

 

E o investimento para essa área só aumenta. Entre 2013 e o primeiro trimestre de 2021, aproximadamente US$ 222 bilhões foram destinados a empresas de tecnologia relacionadas ao meio ambiente. Só no primeiro semestre do ano passado, foram US$ 60 bilhões em investimentos. “A tecnologia climática agora responde por 14 centavos de cada dólar de capital de risco”, afirma o estudo.

 

Outra consultoria, a BCG (ex-Boston Consulting Group), publicou em abril deste ano o relatório “The Next ‘Digital’: Unlocking US$ 50 billion Green Tech Opportunity”, que mostra que as empresas de tecnologia estão prontas para alcançar “um crescimento revolucionário, impulsionado pela crescente adoção da transformação do modelo de negócios orientado para a sustentabilidade em todos os setores, criando uma vasta oportunidade de US$ 45 bilhões a US$ 55 bilhões por ano e com expectativa de crescimento de 25% a 30%, ao ano, nos próximos cinco anos”.

 

Batalha antiga pelo meio ambiente

 

A ascensão da agenda de meio ambiente pode parecer algo que surgiu somente nos últimos anos, mas a verdade é que as preocupações com o futuro do planeta e dos seres vivos datam de muito antes.

 

Um dos primeiros e principais marcos aconteceu em 1972, quando lideranças mundiais se reuniram em Estocolmo, Suécia, para a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, considerada a primeira cúpula ambiental global.

 

Naquele momento, as nações enfrentavam problemas como chuvas ácidas nas cidades, derramamentos de petróleo nos oceanos e florestas sendo desmatadas sem qualquer tipo de controle ou compensação. Com isso, a Conferência de Estocolmo colocou as questões ambientais na vanguarda das preocupações internacionais e marcou o início de um diálogo entre os países sobre um novo modelo de desenvolvimento que considerasse a preservação ambiental como um de seus pilares prioritários.

 

O Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado no último dia 5 de junho, foi criado pelas Nações Unidas e convoca a humanidade para celebrar a riqueza do planeta, assim como destacar os perigos que ele enfrenta.

 

A data.se consolidou como uma plataforma global de divulgação ambiental. Neste ano contou com a participação de milhares de pessoas de todo o mundo em sua ação coletiva chamada Earth Action Numbers, que incentiva a todos nós, sejam organizações ou pessoas, a fazerem ações e eventos ambientais, compartilhando os resultados dessa mobilização coletiva na plataforma do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

 

Com o tema “Uma Só Terra”, o evento deste ano foi transmitido ao vivo e teve a Suécia como anfitriã, além de um mote claro: “vida sustentável e em harmonia com a natureza”.

 

Para apoiar a mobilização, o PNUMA produziu um guia prático sobre o tema de 2022, que serve como uma bússola para orientar governos, cidades, empresas, grupos comunitários e indivíduos sobre as principais ações ambientais que podem ser implementadas para efetuar mudanças reais. Também é possível acompanhar toda a mobilização a partir da hashtag #OnlyOneEarth.

 

Passados 50 anos, o Dia Mundial do Meio Ambiente de 2022 ocorreu em um momento decisivo para o futuro do nosso planeta.

 

O que devemos fazer

 

As notícias são muito positivas, mas a conclusão é clara: para reverter o cenário catastrófico de nosso meio ambiente, corremos contra o tempo e o caminho já é há muito conhecido.

 

Precisamos transformar nosso modelo econômico, garantindo que ele não seja somente de baixo carbono, mas também inclusivo, justo e mais conectado com a natureza.

 

Devemos deixar de prejudicar o planeta para curá-lo.

Devemos proteger o que temos e trazer de volta o que perdemos para avançar rumo a um futuro melhor e mais sustentável, onde todos possam prosperar.

 

E o mais importante: devemos estar convencidos de que, ao mesmo tempo em que somos responsáveis pelo problema, temos o dever de ser parte de sua solução.

 

Confira o texto na íntegra no UOL/Tilt.

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