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Reflexões sobre empreendedorismo no setor público

Combinar o perfil inovador do empreendedorismo com governo brasileiro ainda não é a grande realidade, mas já é uma tendência.
Em 18 de July de 2018

Escândalos de corrupção, cortes de gastos e polarização política. Esses ingredientes geram grande desconfiança entre os setores público e privado, enclausurando muitas vezes cada figura em seu “feudo”, sem a interação tão valiosa que viabiliza grandes transformações. É preciso insistir nas trocas de experiências, e combinar novas tecnologias e o DNA de inovação do empreendedor com o alcance do poder público. Porque é difícil falar sobre transformação no país sem o envolvimento do governo, seja municipal, estadual ou federal.

Setor público e escalabilidade

Cerca de 40% do PIB vem de atividades do governo. Outro dado que prova a relevância da esfera pública é quando falamos de saúde e educação: os equipamentos públicos como hospitais e escolas representam mais de 70% da rede. Qualquer inovação, para ser adotada pela população e ganhar relevância necessária para melhorar a vida em sociedade, precisa contemplar essa estrutura.

Empreendedorismo de subsistência

Também é preciso considerar a realidade do empreendedor brasileiro hoje. Esta é outra questão que reforça a necessidade de sinergia entre mundos aparentemente tão diferentes, como o empreendedorismo e o setor público. É comum analistas afirmarem que o Brasil é um playground para o empreendedorismo. Muito por conta do vasto campo que pode (e deve) ainda ser explorado. Há muito o que inovar, transformar, criar e atender. Mas estamos em um estágio inicial de muita subsistência. O empreendedor precisa se preocupar muito com fechar as contas no final do mês, e não um com capital para investir pesado em inovação. Alinhar inovações com políticas públicas é uma alternativa que viabiliza projetos piloto e transformações maiores.

Caminhos

Letícia Piccolotto, fundadora do BrazilLAB, destaca a área de programação e tecnologia blockchain como caminhos possíveis para o empreendedorismo brasileiro se destacar no cenário mundial. São sem dúvida dois campos com demanda crescente e o Brasil pode aproveitar essa oportunidade. Segundo a Federação Internacional de Robótica, a China possui uma “população” de robôs 60 vezes maior que o Brasil. É preciso investir para que o país possa avançar nesse campo. E a tecnologia Blockchain é outra frente que pode revolucionar as relações de negócios por aqui. Isso porque essa tecnologia disruptiva apresenta benefícios que se encaixam com necessidade intensa do Brasil e desburocratizar e acelerar seus processos.

Precisamos ter um governo mais aberto, mais leve, que esteja mais alinhado com as necessidades dos cidadãos. E há um forte movimento para que isso ocorra. Após a lei de Acesso à Informação (LAI), temos os dados disponíveis. Temos diversos diagnósticos, sabemos como o dinheiro público é gasto, o que não está sendo feito. De maio de 2012, ano em que a lei entrou em vigor, e maio de 2018, foram registrados mais de 600 mil pedidos e 99,65% foram respondidos no prazo legal. Agora precisamos passar para uma próxima etapa, justamente de utilização dessas informações tão valiosas. Chegamos no momento em que são necessárias tomadas de decisão e uma resposta colaborativa entre o empreendedor, o governo e a academia. Esses diferentes setores da sociedade juntos é que encontrarão soluções revolucionárias. Letícia do BrazilLAB pontua “pra mim, inovação só acontece quando se está estabelecendo trocas”. Essa mudança de pensamento ainda não ocorre em larga escala, mas existe e a percepção do Brazil LAB que é uma tendência.

Bons exemplos para a transformação

O BrazilLAB é um hub de inovação para estimular essa cultura inovadora dentro do sistema público brasileiro. Como? fazendo a ponte entre o ecossistema de startups, ideias e tecnologias com gestores públicos alinhados com esse novo pensamento. Os casos gerados nesse hub reforçam essa corrente de pensamento que aproxima governantes de soluções inovadoras.

Um ótimo exemplo é o aplicativo Cuco Health. O projeto, que foi acelerado pelo BrazilLAB e foi implementado em Juiz de Fora, Minas Gerais, é uma espécie de enfermeira digital. O app monitora pacientes com doenças crônicas como o diabetes, com alertas de medicação e outras recomendações específicas do usuário. Quanto mais informações são colocadas no Cuco Health, maior é o desconto em medicamentos específicos e tratamentos como sessões extras de fisioterapia. Essa simples ação de monitorar a medicação e recomendações médicas dos pacientes visa evitar internações em unidades de tratamento intensivo. Com a adesão dos tratamentos, o município economiza e leitos ficam disponíveis para outras categorias de emergência.

Será muito benéfico o governo chegar ao ponto se apresentar como uma plataforma para engajar empreendedores. Uma grande base que aponta demandas, fornece os dados e constrói políticas públicas com foco no usuário. Esta não é uma realidade hoje, mas é animador identificar cada vez mais gestores públicos abertos a essas pautas. Afinal, reconhecem que antigas fórmulas não solucionam mais os problemas e é preciso se abrir para novas tecnologias, explorar outros campos.

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