Sociedade reúne tecnologias para evitar fake news nas eleições. Isso basta?

Do que já está feito e do que podemos fazer sobre a desinformação.
Letícia Piccolotto Em 13 de September de 2022

As eleições se aproximam, e com elas uma grande preocupação: o combate à desinformação. A luta contra as chamadas fake news se intensificou no contexto das últimas eleições nacionais, em 2018, quando as redes sociais se transformaram na principal ferramenta da disputa política, acirrando os embates e a polarização na sociedade —fenômenos que seguem firmes até hoje.

Combater as informações falsas e divulgadas em massa com o uso de tecnologias —especialmente, as redes sociais— se tornou a missão de todos que se preocupam com a defesa da democracia. O compartilhamento de notícias falsas não acontece somente durante o período eleitoral e tampouco é uma exclusividade do contexto brasileiro.

 

No auge da pandemia da covid-19, foram incontáveis as mensagens circulando em grupos do WhatsApp falando sobre remédios sem evidência, curas milagrosas ou questionando a seriedade ou —existência— do problema. O fato é que as fake news foram um dos maiores desafios no combate à pandemia e para a preservação da saúde de pessoas do mundo inteiro. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) se referiu a esse fenômeno chamando-o de "infodemia", ou seja, a disseminação em massa de informações falsas, dúbias, descontextualizadas, tendenciosas ou deturpadas. Após esses emblemáticos e destrutivos eventos envolvendo notícias falsas, organizações públicas, sociedade civil organizada e empresas —principalmente big techs— têm desenvolvido estratégias e programas contra a desinformação e colocado essa pauta como prioridade. Antes que possa ser tarde demais.

 

O desafio não é simples. Um levantamento feito pela Poynter Institute com apoio do Google aponta que, no Brasil, 4 em cada 10 pessoas afirmam receber notícias falsas todos os dias. O número é ainda maior entre os brasileiros que possuem o hábito de verificarem as notícias que eles e suas famílias recebem. Nesse caso, o índice sobe para 65%. Dentre os que compartilharam acidentalmente informações inconsistentes em algum momento, 43% dos brasileiros afirmaram já ter enviado uma notícia ou mídias (como fotos ou vídeos), e só mais tarde terem percebido de que se tratava de fake news. O impacto dessa disseminação de notícias falsas é gigante. Segundo a pesquisa Digital News Report 2022, da Reuters, 83% dos brasileiros utilizam meios de comunicação online, principalmente redes sociais, a exemplo do WhatsApp, como fonte de informação.

 

Ferramentas como essas, que não possuem funcionalidades para verificação de dados ou para a pesquisa de informações, tornam ainda mais difícil avaliar a qualidade e a veracidade da fonte e da notícia, antes de ser passada à frente. Com milhares de grupos sendo criados a todo momento e uma rede de desinformação difusa, o desafio de identificar e rastrear as origens das informações falsas, que se disseminam de maneira rápida e com um alto alcance, torna-se cada vez mais complexo. Para barrar esse movimento, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tem desempenhado um papel relevante.

 

O Programa Permanente de Enfrentamento à Desinformação, criado em agosto de 2019 pelo órgão, conta atualmente com 154 parceiros de instituições públicas e privadas. O programa, se destina a prevenir e combater a disseminação de notícias falsas e a desinformação sobre o processo eleitoral. As organizações parceiras dividem com a Justiça Eleitoral as seguintes atribuições:

·       Monitorar notícias falsas, combatendo a desinformação com informação correta sobre a questão abordada;

·       Ampliar o alcance de informações verdadeiras e de qualidade sobre o processo eleitoral e;

·       Capacitar a sociedade para que saiba identificar e denunciar conteúdos enganosos.

 

Como parte deste programa, o TSE oferece diversas ferramentas, como:

 

·       A página Fato ou Boato, um portal de checagem de conteúdos que circulam pela internet a respeito do sistema de votação;

·       O canal Sistema de Alerta, que possibilita o envio de denúncias;

·       E a criação da série #DemocraciaEmPílulas, que oferece informações e esclarecimentos relevantes, de forma acessível, sobre o processo eleitoral através das redes sociais do TSE.

Em 2022, o TSE e o Telegram também celebraram um acordo de colaboração mútua para enfrentamento da desinformação, medida inédita em todo o mundo. De acordo com o documento, que deve vigorar até o final do ano, a parceria envolve a criação de um canal oficial do TSE na plataforma para divulgar informações oficiais sobre as eleições, suporte da equipe técnica do Telegram para o desenvolvimento de um robô para tirar dúvidas dos usuários, bem como o desenvolvimento de uma nova funcionalidade na plataforma para marcação de conteúdos desinformativos. Além de apoio técnico e inovações no produto para enfrentar a desinformação, a plataforma se comprometeu a apoiar o TSE na divulgação do canal para todos os usuários do Telegram no país.

 

Diversas outras iniciativas também têm surgido no apoio ao combate a desinformação durante o período eleitoral, como os sites de checagem de notícias —como o Lupa e o UOL Confere—, e também plataformas que visam enfraquecer economicamente portais que disseminam notícias falsas, como a Sleeping Giants BR. Startups também têm tido um papel importante, através de parcerias com órgãos públicos, como é o caso da Robbu — focada em soluções de atendimento digital omnichannel —que junto com o Supremo Tribunal Federal (STF) e WhatsApp firmaram uma parceria para implementar atendimento digital por um canal oficial de mensagem via chatbot no WhatsApp. E a Fasius, startup da área de inteligência artificial, que criou uma plataforma exclusiva para o Supremo chamada "TORS" (Tecnologia de Otimização de Redes Sociais), a fim de capturar publicações de interesse da Corte através de palavras-chave nas redes sociais, inicialmente no Twitter.

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O combate às fake news está em pauta e deve permanecer como prioridade pelos próximos meses.Em um problema complexo, os debates são inevitáveis, mas, independentemente de tais disputas, é com muito entusiasmo que assistimos o surgimento de um compromisso público de diversos atores para fazer com que o compartilhamento desse tipo de notícias seja cada vez mais enfraquecido. Mas é preciso ir além, atuando de maneira coordenada e efetiva contra o problema.

 

Precisamos utilizar tecnologias disruptivas que temos à nossa disposição —como big data, blockchain, machine learning, inteligência artificial— de modo que permitam a análise do emaranhado de informações disseminadas a cada segundo e, especialmente, a checagem e a transparência de fontes confiáveis. Para combater um inimigo tão ágil, precisamos somar o uso das tecnologias avançadas, que nos coloquem um passo à frente das milícias digitais, juntamente com a responsabilidade de cada um de nós de verificar a veracidade das informações antes de divulgarmos. Somos todos, e cada um de nós, parte da solução para esse problema.

 

 

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