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Tecnologia x Fakenews: um alerta sobre a era da pós-verdade

Diretor Jordan Peele faz vídeo com Obama para denunciar notícias falsas. Nas imagens, ex-presidente americano aparece xingando Trump
Em 19 de April de 2018

O fenômeno das “fake news” (notícias falsas com alta capacidade de viralização) é tão impactante nos dias de hoje que Oxford elegeu “pós-verdade” como a palavra do ano de 2016. Ela se refere a essas informações tratadas como verdade só por seu apelo emocional, independentemente de serem comprovadas com fatos concretos. Para chamar a atenção para o aumento das notícias falsas e de vídeos falsos - chamados “deep fake news”, ou “notícias falsas profundas”- que circulam pelas redes sociais, o diretor americano Jordan Peele fez um vídeo no qual o ex-presidente Barack Obama (2009-2016) aparece fazendo uma série de afirmações falsas.

Assista ao vídeo:

“Simplesmente, o presidente Trump é um imbecil”, “Killmonger [vilão do filme ‘Pantera Negra’] estava certo” e “Ben Carson [secretário de Trump] está em transe”, diz o Obama do vídeo, divulgado nesta quarta-feira (18) pelas redes sociais. No meio do vídeo, porém, Peele, que ganhou o Oscar de melhor roteiro neste ano pelo filme “Corra!”, revela que as imagens foram manipuladas usando programas de efeitos especiais, e que as falas, na verdade, foram criadas e ditas por ele e acrescentadas às imagens de Obama.

O programa de edição manipula a imagem da mandíbula do presidente e cola a ela a da boca de Peele, de forma a parecer que o democrata está pronunciando as palavras. “Se liguem, vadias!”, conclui o “fake-Obama”. Segundo os produtores do vídeo, copatrocinado pelo site de notícias BuzzFeed, o processamento da adulteração digital levou 56 horas.

“Este é um momento perigoso da história”, conclui Peele. “Precisamos estar mais vigilantes com o que confiamos na internet. É um momento em que precisamos confiar em fontes de notícias fidedignas. Pode parecer básico, mas a maneira como caminhamos em uma era de informação será a diferença entre sobreviver ou vivermos em uma distopia fodida", ressaltou o diretor.

Batalha pela realidade está começando

Ronaldo Lemos, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio e mentor do BrazilLAB, em um artigo no Jornal Folha de S. Paulo, destaca que há dois enfoques principais sendo propostos como antídoto ao fenômeno do "deepfake" (falsificação profunda). O primeiro é utilizar a própria inteligência artificial para detectar se uma imagem ou vídeo é falso. Esse enfoque fazia muito sentido até pouco tempo atrás.

A questão é que surgiu um novo método que transforma o antídoto em veneno. Chamado GAN (acrônimo de "redes adversárias generativas"), ele faz com que a criação de uma técnica para identificar imagens falsas com inteligência artificial contribua para tornar as falsificações ainda mais perfeitas. Com um GAN os falsificadores poderão aperfeiçoar sua técnica, tornando a identificação do que é falso ainda mais difícil.

O outro enfoque é o uso de blockchain para certificação da captação de imagens virtuais. Em outras palavras, toda imagem captada diretamente da realidade, com celulares ou câmeras profissionais, seria registrada num arquivo global, imutável e acessível em qualquer parte do mundo, certificando que aquela imagem é "real".

O problema desse enfoque é que ele é extremamente difícil de implementar. Além disso, qualquer edição na imagem ou no vídeo (por exemplo, colocando um filtro) tornaria a "certidão de realidade" inválida.

Essas duas estratégias são insatisfatórias. Até o momento, são o que há de mais concreto para combater "deepfakes". Se eu fosse pessimista, diria que estamos lascados. Como sou otimista, tenho confiança de que a inventividade humana irá superar também esse abacaxi.

Com a matéria apresentando o vídeo-fake, o Buzzfeed fez um post sobre o que é possível fazer para ficar esperto e não cair nas deepfakes: confira neste link (em inglês).

Fonte: Folha de S. Paulo.

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