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TED Talk com Peter Calthorpe: para construir cidades inteligentes, é preciso mudar paradigmas

Em palestra, respeitado urbanista expôs sua visão de expansão inteligente das cidades. E usou como exemplo o trabalho que vem sendo feito na Califórnia
Em 31 de October de 2018

 

Quando se trata de repensar as cidades, o arquiteto e urbanista Peter Calthorpe dispensa apresentações. Seu nome é praticamente um sinônimo do chamado “novo urbanismo”, movimento sediado em São Francisco (EUA) que se organiza para promover práticas sustentáveis de planejamento e construção em cidades. Ele sempre defendeu a expansão inteligente dos centros urbanos -- e começou muito antes de isso se tornar uma tendência global, como é hoje.

Nesta apresentação do TED Talks, intitulada 7 princípios para se construir cidades melhores, Calthorpe sintetizou o seu pensamento e a sua visão. Trata-se de um material valioso não só para os interessados em arquitetura e urbanismo, mas para quem defende o desenvolvimento inteligente das cidades, incorporando novos pensamentos aos projetos de expansão. Em outras palavras, prato cheio para quem luta por mais inovação no setor público.  

 

Cidades para 3 bilhões

Peter Calthorpe começa com um dado impressionante: até 2050, teremos que construir cidades para 3 bilhões de pessoas -- “uma duplicação do ambiente urbano atual”. A conclusão é óbvia: caso isso não seja feito com cuidado de forma inteligente, “nem todas as soluções climáticas do mundo serão capazes de salvar a humanidade,” afirma.

Mas o que significa realizar essa expansão inteligentemente? De acordo com Calthorpe, isso significa evitar, a qualquer custo, a “expansão urbana desordenada”, que isola as pessoas, “segregando-as em enclaves econômicos e territoriais, isolando-as da natureza”.

 

O exemplo da Califórnia

Para ilustrar esse pensamento, o apresentador compartilha o projeto de expansão da Califórnia, conduzido por ele. A projeção é que, em 20150, a região conte com mais dez milhões de habitantes. “Simulamos uma série de cenários de crescimento para o estado,” conta ele, “misturando uma série de protótipos de desenvolvimento”.

Um cenário era de expansão urbana desenfreada, com mais do mesmo: shoppings, condomínios residenciais e centros empresariais. O outro cenário, denominado de “expansão inteligente”, foi marcado por um desenvolvimento mais compacto: bairros residenciais com pequenos comércios, vizinhanças onde se pode caminhar, prédios baixos mas integrados, ambientes de uso diversificado.

Neste segundo cenário, o eixo da transformação é o transporte público. A projeção de Calthorpe prioriza o sistema, inserindo-o ao longo dos canteiros centrais de avenidas (principalmente ônibus e VLTs). Além disso, “diversifica-se os espaços ao redor”, com uso variado dos quarteirões: comércio, empresas, espaços de lazer, etc. Com isso, afirma o urbanista, você torna a vizinhança mais complexa e mais interessante, o que facilita a realização de percursos a pé.  

 

As diferenças absurdas entre os cenários

A comparação entre essas duas projeções traz resultados estarrecedores, de acordo com Peter Calthorpe. O primeiro cenário, de expansão desenfreada, quase que duplica a “pegada física” urbana, de uso da terra (e, consequentemente, de recursos naturais). Enquanto que, no segundo cenário, essa pegada se reduz a bem menos do que a metade.

Quanto à emissão de gases do efeito estufa, a diferença também é enorme. Porque, na Califórnia (assim como em SP e outras grandes cidades do país), os carros são os principais responsáveis por soltar carbono na atmosfera. E cidades que não dependam tanto de veículos reduzem fortemente essa pegada ambiental. Ou seja, mais espaço para pedestres e ciclistas, maior priorização do transporte público.

 

Até o orçamento familiar

Calthorpe salienta que a expansão inteligente vai proporcionar, também, uma redução no orçamento das famílias californianas. Em relação à expansão desenfreada, a economia vai ser de até 10.500 dólares em 2050, tanto de combustível quanto em água e energia elétrica ou solar.

Projetar e comparar esses cenários, de acordo com Peter Calthorpe, permitiu que grupos diferentes percebessem o interesse comum que há na expansão inteligente. Construtoras e corretores imobiliários, ambientalistas e políticos: todos entendem os benefícios dessa expansão inteligente, e é isso que alavanca a verdadeira mudança.

Por isso, conclui o urbanista, Los Angeles decidiu tornar-se uma cidade orientada para o transporte público, para pedestres. “Desde 2008, o poder público local já destinou 400 milhões de dólares em títulos do governo para o transporte público -- e ‘zero dólares’ para novas avenidas”.

Ou seja, Los Angeles é a prova de que, quando os benefícios da inovação na gestão pública são evidentes para todos, a vontade política de realizá-la acaba sendo uma consequência natural.

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