Parcerias sadias entre governos e empresas podem ser poderosas para resolver grandes problemas de cidades, por meio da inovação. Veja como um empreendedor de Belo Horizonte mudou de visão após participar de programas que incentivam essas alianças.
Basta passar os olhos pelo jornal para ler alguma notícia envolvendo escândalos de corrupção envolvendo o poder público — e empresas. Por motivos como esse, além de fatores como o longo processo de contratação, o empreendedor João Gallo tinha receio de negociar com instituições públicas.
Gallo é um dos criadores do AppProva, uma plataforma analítica que permite que as escolas e os professores descubram pontos fortes e fracos dos estudantes e direcionem de modo assertivo as atividades pedagógicas. Fora dos colégios públicos, Gallo deixava de, potencialmente, atingir a imensa maioria dos alunos brasileiros, já que mais de 80% deles estudam nesse tipo de instituição. Era uma situação em que todo mundo saía perdendo: a empresa, os alunos…
O caso é emblemático de como o potencial de parcerias sadias entre a iniciativa privada e o setor público é subaproveitado no Brasil.
"Nosso país tem grandes desafios em diversas áreas, e o trabalho conjunto entre as duas esferas tem se mostrado, em várias cidades do mundo, extremamente poderoso. É a força da inovação aberta".
No exterior, cidades como Barcelona (Espanha) e Filadélfia (EUA) são referências no assunto. Elas convocam empresas a propor soluções inovadoras para seis desafios relacionados a áreas como gestão pública, mobilidade, educação, inovação urbana e serviços sociais.
Neste ano, começou a funcionar em Barcelona o sistema VadebikeBcn, que tem o objetivo de reduzir os roubos de bicicletas: usuários podem reservar uma vaga em estacionamentos de bikes, que ficam com rodas, quadro e até capacete protegidos nas ruas. O sistema foi um dos vencedores do Barcelona Open Challenge.
Aqui no Brasil iniciativas assim começam a florescer e a ganhar mais atenção. No ano passado, o AppProva foi um dos escolhidos entre mais de 600 empreendedores para participar do BrazilLAB, um programa que fornece mentoria especializada em direito administrativo, ajuda financeira e apoio para a construção de modelos B2G (bussiness-to-government). Também apoia a aproximação dos empreendedores com as administrações municipais.
No ano passado, os empreendedores realizaram um pitch das suas soluções para mais de 20 prefeitos. As inscrições para a segunda turma, que vai selecionar 10 novos projetos em áreas como equilíbrio fiscal, agricultura urbana e comunicação, estão abertas e vão até 5 de julho pelo site
“Precisamos repensar as relações público-privado. Esse processo não pode ser mais um jogo de cartas marcadas. Temos que levar transparência e soluções inovadoras para o poder público que hoje enfrenta desafios extremamente complexos. A conexão entre empreendedores e gestores públicos é uma alternativa para crise que estamos vivendo hoje e uma agenda positiva para o Brasil”, explica Letícia Piccolotto Ferreira, fundadora do BrazilLAB.
“Temos o propósito de impactar a maior quantidade possível de pessoas, ser um agente transformador da educação. Se não trabalhamos com o setor público, estamos nos fechando para 85% dos alunos, e justamente os que mais precisam”, João se deu conta".
Durante o processo, o empreendedor conseguiu enxergar melhor as formas de contratação pelo setor público, que, há, sim, formas de atuar corretamente. E que, no caso de empreendedores inovadores, eles têm também o papel de atuar como “educadores” de gestores públicos, que podem não estar acostumados a analisar soluções de tecnologia (adquirir a licença de uso de uma plataforma tecnológica é diferente e comprar giz para lousas, certo?)
E que as empresas também precisam estar preparadas. “Às vezes, o empreendedor não tem a visão do tamanho que é a coisa pública. Algo que é usado em um condomínio pode não ser escalável para a cidade”, ele me contou.
No próximo semestre, AppProva começa um projeto-piloto em 29 escolas públicas de Belo Horizonte, por meio de um convênio firmado com a Secretaria Municipal de Educação. A expectativa é que a iniciativa ajude os professores a direcionar melhor o conteúdo para que os alunos, efetivamente, aprendam. Quando governo e iniciativa privada trabalham juntos, de modo ético, efetivo e inovador, todo mundo tem a ganhar.
A AppProva é um exemplo de scale-up (empresa de crescimento contínuo e escalável) que colocará em prática um programa de inovação aberta, promovido pelo Brazil Lab e pela prefeitura de Belo Horizonte, para resolver um problema prático de forma inovadora
Esse tipo de iniciativa era um dos pleitos da campanha +Empreendedores +Empregos, uma iniciativa da Endeavor e outras 60 organizações do ecossistema empreendedor, realizada nas eleições do ano passado: criar, no primeiro ano de governo, um programa de inovação aberta que traga scale-ups para ajudar a resolver os desafios públicos. Mais de 40 candidatos assumiram publicamente o propósito de implementar isso.
Um dos compromissos era passada a eleição, é hora de fazer acontecer. Em um país com tantos desafios, precisamos trabalhar juntos e ter mais exemplos como o de Gallo.
Fonte: Endeavor