Países como a Estônia têm muito a nos ensinar sobre como a coleta de dados dos cidadãos contribuem para serviços públicos mais eficientes. Por lá, é possível declarar o imposto de renda, identificar-se em uma eleição e até usar o serviço público de saúde com apenas um registro. O Brasil, apesar de ainda atrasado no tema, dá seus primeiros passos rumo a digitalização: programas como o Bolsa Família pouparam aos cofres públicos cerca de R$ 1 bilhão com o uso de softwares para checagem de fraudes. Letícia Piccolotto, fundadora do BrazilLAB, foi convidada pela Exame para analisar as iniciativas brasileiras rumo a um poder público mais digital:
“Os governos ainda entendem a tecnologia como um meio, algo que faz parte de uma infraestrutura de apoio. Não a veem como uma oportunidade importante do século 21. Ela não é um meio, é uma grande aliada para atingir resultados mais eficientes”, diz.
Enquanto nenhuma solução centralizada é criada no Brasil, são as pequenas empresas de tecnologia — as startups — que vêm desenvolvendo ferramentas para digitalizar parte dos serviços municipais e estaduais. Essas startups que trabalham com governos já têm até um apelido. São chamadas de “govtechs”, porque usam a tecnologia para melhorar processos burocráticos e agilizar o atendimento ao cidadão. A consultoria Ovum TMT Intelligence, especializada no setor de tecnologia da informação, estima que os investimentos públicos em TI no mundo deverão crescer e atingir 265 bilhões de dólares até 2021, beneficiando as startups que atuam no setor.
Uma das empresas brasileiras que fazem parte dessa tendência é a Mobieduca.me. Ela desenvolveu um aplicativo para controlar a frequência dos estudantes nas escolas públicas. Cada aluno recebe uma carteirinha, com um código de barras, que é retida quando ele entra na escola e devolvida na hora da saída. A informação é registrada num sistema online, e os pais e as mães dos estudantes podem checar, num aplicativo, se os filhos estão na escola.
O Piauí foi o primeiro estado a implementar o sistema em 2014. Hoje, 200 000 alunos de 339 escolas estaduais, entre as 674 existentes no Piauí, são monitorados com o sistema. O maior benefício é que, com o controle digital e a supervisão dos pais, os alunos são estimulados a estudar. Desde que o sistema foi implementado, a taxa de abandono escolar no estado caiu 75%.
Para Letícia Piccolotto, especialista em gestão pública pela Harvard Kennedy School e fundadora do BrazilLAB, uma aceleradora que ajuda startups a empreender no setor público, um dos riscos que a digitalização corre no Brasil é o de repetir erros do passado.
“Os governos ainda entendem a tecnologia como um meio, algo que faz parte de uma infraestrutura de apoio. Não a veem como uma oportunidade importante do século 21. Ela não é um meio, é uma grande aliada para atingir resultados mais eficientes”, diz Letícia.
Como a experiência vem mostrando, o investimento em tecnologia pode ser uma boa medida para reduzir a burocracia e ajudar na prestação de serviços de forma mais eficiente e menos custosa. Mas, para isso, é preciso que ela seja bem aplicada. Caso contrário, será mais um gasto público desperdiçado.
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