Compartilhe:

GovTech na América Latina: a hora é agora

Especialistas de Inovação Digital do Banco de Desenvolvimento da América Latina destacam o ecossistema que desponta na região.
Em 26 de September de 2019

Já não é mais novidade que empresas de GovTech estão transformando a gestão pública. No entanto, esse termo ainda soa como buzzword - ou seja, um chavão um pouco vago, sem uma definição precisa. Diante disso, é significativo o fato de o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) propor uma conceituação de GovTech: de acordo com a instituição, trata-se do ecossistema no qual governos colaboram com startups e outros agentes que usam inteligência de dados, tecnologias digitais e metodologias inovadoras para fornecer produtos e serviços que resolvam problemas públicos. 

Essa definição implica uma mudança importante em relação à concepção atual. Em vez de se referir somente a um mercado, o entendimento de GovTech do CAF abrange um ambiente em que todos os atores e suas interações são reconhecidos como necessários para criar valor ao atendimento à população. E mais: o ecossistema e suas startups representam uma nova forma de parcerias público-privadas para absorver a inovação relacionada à transformação digital e aos dados por parte de governos, com o objetivo de aumentar a eficiência e a transparência. 

 

Quem está promovendo a disrupção na América Latina?

Em texto publicado recentemente no portal Apolitical, Carlos Santiso e Enrique Zapata, respectivamente Diretor e principal especialista de Inovação Digital do Departamento de Governos do CAF, apresentaram um panorama atual de GovTech na América Latina. 

De acordo com eles, esses ecossistemas e seus participantes já estão mostrando o impacto da inovação no setor público, especialmente nas cidades. Nessas localidades o impacto é mais relevante, uma vez que é nos municípios que cidadãos interagem diretamente com governos.

Santiso e Zapata listam algumas iniciativas que ilustram essa concepção:

  • Diversos municípios argentinos estão utilizando o Munidigital, um sistema online que melhora serviços públicos como agendamento de compromissos com instituições governamentais e canais de comunicação. Em cidades como La Rioja, por exemplo, houve mais de 700% de retorno de investimento, economia de 2,3 milhões de dólares e redução de mais de 160 toneladas de CO2;
  • No Brasil, por meio de uma plataforma chamada Target, a empresa de tecnologia Facilit está ajudando governos estaduais e municipais a melhorarem seus planejamentos estratégicos e seus serviços graças à ciência de dados;
  • Na cidade de Guadalajara, no México, o governo criou sua própria GovTech chamada Visor Urbano para trazer ciência de dados e tecnologia ao planejamento urbano. Somente com a digitalização do cadastro, houve um ganho de receita fiscal de mais de 20%. Já no Brasil, a Gove, uma plataforma de tecnologia lançada em 2017, está mudando a forma como municípios pequenos e médios reajustam impostos. Até 2018, a solução gerou uma economia de, em média, 6% no orçamento das cidades;
  • Em diversas cidades e estados da Argentina, do Brasil, do Chile e do México, a lataforma OS.City está usando tecnologias de blockchain e inteligência artificial para fornecer serviços públicos melhores. 

Santiso e Zapata afirmam que, com seus produtos e serviços, essas empresas estão mostrando como os governos do futuro podem ser na América Latina. E ainda assim são apenas uma amostra do grande número de startups e scale-ups de GovTech que estão surgindo na região para ajudar a solucionar problemas em áreas como saúde, segurança pública e até turismo. 

 

Quem são os principais facilitadores de GovTech?

Para os autores do artigo, hoje, a maioria das peças do quebra-cabeça de GovTech já está no lugar certo. O próximo passo é trabalhar no sentido de posicioná-las de modo que resultem em políticas de inovação coerentes e abrangentes. Inúmeros governos na América Latina, em níveis federais e regionais, estão prestando mais atenção a isso, com a Colômbia emergindo na dianteira. 

De acordo com uma pesquisa realizada pelo CAF, a partir de agora, as iniciativas devem abordar cinco fatores principais para obterem sucesso: 

  1. Políticas públicas: Governos vão se beneficiar do monitoramento e da análise realizadas por soluções de GovTech. A chave para o sucesso será a formação de times multidisciplinares para entregas mais efetivas. Singapura é um ótimo exemplo de como GovTech pode se tornar uma extensão do próprio governo. Neste processo, agências reguladoras exercem um papel fundamental para possibilitar inovação e permitir que servidores públicos realizem experimentos em meio à burocracia avessa ao risco. 
  2. Investimento em startups: Govtech é um investimento de ótimo custo-benefício para governos. Estruturar fundos públicos e criar programas de incentivo para startups têm sido formas bem-sucedidas de aumentar o ecossistema no Reino Unido e em Israel. Esses investimentos podem vir de novas fontes, assim como da consolidação de canais já existentes. Investidores privados também estão ganhando espaço no ambiente de GovTech. 
  3. Espaços para a inovação: A criação e a implementação de mecanismos para catalisar, validar e escalar novas ideias são determinantes para o ecossistema de GovTech. Desafios públicos e Laboratórios de Inovação podem dar suporte a soluções de GovTech, dentro e fora de governos. Países como Inglaterra, Portugal, Dinamarca, Polônia e, mais recentemente, Lituânia, estão lançando programas de incentivo a GovTech. A França está “incubando” startups embutidas em agências públicas.
  4. Compras públicas: De acordo com Carlos Santiso e Enrique Zapata, os entraves burocráticos de aquisições governamentais são o maior desafio das GovTechs. No entanto, iniciativas em toda a América Latina mostram que há vontade política de abrir caminhos para que startups e scale-ups trabalhem com governos, mesmo que não tenham a musculatura financeira para encarar os processos tradicionais. Colômbia, Chile e Brasil foram citados como exemplos de abordagens inovadoras neste campo.

Em suma, Santiso e Zapata afirmam que o momento é muito favorável para que governos latino-americanos abracem o paradigma de GovTech como parte de sua evolução rumo a um setor público mais inteligente. De acordo com eles, ao tomarem tal rumo, esses governos poderão entregar serviços públicos com muito mais agilidade. 

 

Conheça o Selo GovTech do BrazilLAB!

O BrazilLAB vem buscando formas de facilitar a contratação de tecnologia pelo setor público, sendo sua última iniciativa a criação do Selo GovTech, que certifica startups como capacitadas e aptas a trabalharem e venderem para diferentes órgãos do governo. Ao ser aprovada no processo e obter o Selo GovTech, a startup passará a fazer parte de uma rede de empreendedores que possuem soluções tecnológicas para diversos desafios dos governos! Clique aqui e saiba mais.

Relacionados