A pauta GovTech vem crescendo cada dia mais no Brasil, mas não só aqui. Internacionalmente, a tecnologia vem trazendo contribuições importantíssimas para a transformação na forma como o setor público lida com sua administração. Para compartilharmos nossos conhecimentos e aprendermos o que vem sendo feito mundo afora pelos empreendedores brasileiros, o BrazilLAB participou, no dia 22 de Agosto, no Vale do Silício, do evento BayBrazil Conference.
O evento internacional, promovido pela BayBrazil, reuniu empreendedores, investidores e líderes do setor privado para discutir ciência, tecnologia, inovação e o papel do Brasil na economia global. Para saber mais, clique aqui.
Confira abaixo, na íntegra, a entrevista traduzida de nossa founder, Letícia Piccolotto, à organização. Você encontra a entrevista original neste link aqui (disponível apenas em inglês).
BayBrazil: Conte-nos sobre o BrazilLAB e o que a levou a fundar o BrazilLAB.
Letícia: O BrazilLAB foi fundado em 2016, inspirado na minha visão de criar um governo mais inovador e digital para oferecer políticas públicas de qualidade aos cidadãos brasileiros. Embora vivamos no século 21, enfrentamos desafios subjacentes, como o analfabetismo da população, a falta de saneamento público e os altos índices de mortalidade infantil, quando comparados a outros países da América Latina. Por mais que esse cenário possa ser assustador, acredito fortemente que as tecnologias digitais representam uma ferramenta fundamental para lidar com essas questões. Portanto, o objetivo principal do BrazilLAB é conectar startups e o setor público, acreditando que essa sinergia resultará em melhorias para os dois lados. Nosso principal produto é um programa que acelera, capacita e certifica as startups para que elas possam apoiar os governos e servir os cidadãos de maneira mais eficaz. Em três anos, mais de 600 startups se inscreveram para o nosso programa, 55 delas foram selecionadas e agora 25% de nosso portfólio já está vendendo para o setor público.
BayBrazil: Quão ruim é a falta de eficiência nos sistemas atualmente utilizados pelo governo brasileiro?
Letícia: Atualmente, o Brasil ainda enfrenta desafios muito parecidos com os que existiam no século XIX, por exemplo, condições precárias de moradia, desigualdade, burocracia e falta de transparência nas instituições públicas. Embora tenhamos experimentado muitos avanços tecnológicos nas políticas públicas, ainda temos um longo caminho a percorrer em termos de adotar totalmente uma mentalidade inovadora. Em outras palavras, o setor público deve mudar sua racionalidade para entender as oportunidades trazidas pelo uso de recursos digitais. Uma vez superado este primeiro passo, é seguro dizer que os desafios enfrentados pelo Brasil compreendem três questões principais: capacitar os servidores públicos para o uso integral das ferramentas digitais, rever processos burocráticos para refletir melhor as especificações digitais e, finalmente, envolvendo os cidadãos no uso de tais tecnologias.
BayBrazil: Dê-nos alguns exemplos de tecnologias que podem ajudar a modernizar o governo.
Letícia: As tecnologias que são impulsionadas pelas necessidades dos cidadãos são excelentes exemplos de estratégias para modernizar o governo por, pelo menos, duas razões principais: primeiro, exigem mudanças na estrutura burocrática, impulsionando mudanças que vêm de dentro para fora. Em segundo lugar, estes são plenamente apreciados pelo grupo-alvo do governo, isto é, seus cidadãos, para que essas políticas tenham maiores chances de se tornarem iniciativas duradouras. Existem várias estratégias e ferramentas que podem ser aplicadas a várias políticas públicas para melhorar a transparência, eficiência, controle e fornecimento de resultados concretos: coleta e análise de dados, informações de identidade e registros de autenticação de indivíduos, metodologia ágil, plataformas digitais e painéis, software de gerenciamento e assim por diante.
BayBrazil: Como avaliar a eficiência de um produto Govtech, já que em muitos casos não é só dinheiro, mas também impacto que conta?
Letícia: Eu diria que, quando se trata do setor público e de suas políticas, o impacto positivo deve ser o principal objetivo em todos os casos. Também é fundamental afirmar que tal impacto não está necessariamente ausente de mudanças quantificáveis, observáveis, encontradas nas avaliações financeiras. Idealmente, a transformação digital deve impactar três domínios: a percepção do usuário, a política pública e o bem-estar da sociedade. Recentemente, temos assistido ao surgimento dessa agenda, mas é um processo recente e contínuo motivado pelos resultados significativos vivenciados pelos estados, municípios e governo federal no Brasil. Estes podem representar mudanças em áreas mais abstratas, como a satisfação do usuário, mas, principalmente, trazem impacto a indicadores sociais, econômicos e financeiros, por exemplo, mortalidade, anos de educação, renda, saneamento de água e muito mais.
BayBrazil: Existe uma agenda no Brasil para construir um ecossistema Govtech receptivo a provedores de startup?
Letícia: Eu diria que, quando se trata do setor público e de suas políticas, o impacto positivo deve ser o principal objetivo em todos os casos. Portanto, é seguro dizer que o governo está ansioso para adquirir essas tecnologias, mesmo que haja desafios com relação ao “processo de correspondência” entre startups e os governos. Nesse sentido, organizações como o BrazilLAB desempenham um papel importante: entendemos os problemas enfrentados pelo setor público e, ao mesmo tempo, estamos inseridos no ecossistema tecnológico. Esse “papel de corretor”, como acreditamos, é aspecto fundamental dessa agenda.
BayBrazil: Qual é o maior desafio de ter o governo como cliente?
Letícia: Acreditamos que o arcabouço legal no Brasil é o mais significativo dos desafios, pois é bastante restritivo e, por fim, dificulta a implementação de projetos digitais dentro do governo. Por mais que tenha havido mudanças positivas neste domínio, como a promulgação da lei de inovação, ainda temos muito o que cobrir para proteger os funcionários públicos e organizações (principalmente, startups) que estão dispostas a vender e comprar soluções tecnológicas. Por mais desafiador que esse cenário possa parecer, há espaço para práticas inovadoras implementadas com as leis existentes. Por fim, acreditamos que o impacto potencial e os resultados dos projetos digitais com o governo compensam completamente os riscos existentes
BayBrazil: Você poderia mencionar alguns casos de sucesso de startups que foram acelerados pelo BrazilLAB?
Letícia: Todas as startups aceleradas pelo BrazilLAB são casos de sucesso, uma vez que realmente contribuem para o impacto no setor público. No entanto, destacamos dois casos que podem exemplificar a natureza das soluções oferecidas, seja objetivando auxiliar diretamente o cidadão ou melhorar as organizações públicas. O primeiro é chamado de “Cuco Health”, um aplicativo gratuito que aumenta o comprometimento dos pacientes com o tratamento médico - por exemplo, lembrete para a ingestão de medicamentos, consultas - reduzindo potencialmente os custos no sistema público de saúde gratuito. O outro exemplo é a Fábrica de Negócios, e consiste em uma solução de mineração de dados baseada em algoritmos de inteligência artificial que permite avaliar as folhas de pagamento das instituições públicas.
A BayBrazil é uma organização sem fins lucrativos dedicada a conectar os ecossistemas de profissionais e negócios do Brasil e dos EUA, ajudando a facilitar as parcerias entre ambos os países. A missão da BayBrazil é a de buscar a construção de uma comunidade muito unida de profissionais, empresários, investidores e acadêmicos brasileiros que vivem na área do Vale, além de promover o trabalho em rede entre profissionais de empresas norteamericanas com interesse no Brasil e fortalecer os laços comerciais entre o Vale do Silício e o Brasil e dessa forma facilitar à comunidade empresarial no Brasil o acesso a empresas dos EUA e orientando jovens empreendedores.
Conheça o Selo GovTech do BrazilLAB, que certifica startups como capacitadas e aptas a trabalharem e venderem para diferentes órgãos do governo. Ao ser aprovada no processo e obter o Selo GovTech, sua startup passará a fazer parte de uma rede de empreendedores que possuem soluções tecnológicas para diversos desafios dos governos! Clique aqui e saiba mais.